The Project Gutenberg eBook of Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755

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Title : Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terramoto de 1755

Author : Christóvam Ayres de Magalhães Sepúlveda

Release date : August 3, 2006 [eBook #18982]
Most recently updated: April 24, 2007

Language : Portuguese

Credits : Produced by Rita Farinha and the Online Distributed Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was produced from images generously made available by National Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).)

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Christovam Ayres

Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terremoto de 1755

Com os retratos de Manuel da Maya, Carlos Mardel e J. Frederico Ludovici

LISBOA Imprensa Nacional 1910

Christovam Ayres

Manuel da Maya e os engenheiros militares portugueses no Terremoto de 1755

Com os retratos de Manuel da Maya, Carlos Mardel e J. Frederico Ludovici

LISBOA Imprensa Nacional 1910

Á benemerita corporação dos engenheiros portugueses, militares e civis

Consagra

Christovam Ayres

MANUEL DA MAYA E OS ENGENHEIROS MILITARES PORTUGUESES NO TERREMOTO DE 1755

Interessante no estudo relativo ao seculo XIII é ver, embora summariamente, o papel que tiveram os nossos engenheiros militares na restauração da cidade de Lisboa, após o terremoto de 1755, sobretudo o engenheiro-mor Manuel da Maya e os que mais directamente foram incumbidos dos monumentaes trabalhos, que honram a engenharia portuguesa.

Na Revista da Sociedade de Instrucção do Porto (vol. II, 1882, pag. 271) a eminente escritora D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos, tratando da impressão que na Allemanha produzira esse memoravel terremoto, refere-se a tres estudos que, logo em seguida, apresentou o grande philosopho Kant, e que se ligam com outra obra mais consideravel por elle publicada no mesmo anno: Allgemeine Naturgeschichte und Theorie des Himmels . D'esses tres estudos, o segundo é o que mais nos interessa; porque descreve o terremoto, trata das suas causas physicas, e sobre elle faz considerações scientificas de grande alcance; e a illustre escritora, dando noticia do seu conteudo, observa:

«Lendo este estudo de Kant acudiu-nos á memoria aquella carta, cheia de bom senso, que Gil Vicente mandou de Santarem a El-Rei D. João III «estando Sua Alteza em Palmella, sobre o tremor de terra que foi a 26 de janeiro de 1531». O philosopho allemão leva a vantagem ao poeta nacional[1] quanto a saber o ponto de vista critico; entre um e outro ha dois seculos de estudos scientificos; mas o nosso Gil Vicente não lhe fica atrás na inteireza do juizo e verdade do sentimento.

É provavel que as numerosas relações contemporaneas sobre o terremoto, que Kant teve á vista, não fossem todas igualmente fieis; comtudo, o philosopho, armado com uma sciencia superior, positiva, e com um criterio elevado, soube distinguir claramente entre os casos impossiveis, inventados, e as verdades provaveis, tomando estas para base dos seus estudos. Teria o grande Marquês de Pombal, na epoca em que delineava o novo plano de Lisboa, noticia do seguinte importante conselho do illustre philosopho: que as arterias das grandes cidades ameaçadas não se devem construir paralelas ás vias fluviaes (isto é, emquanto a Lisboa, do Occidente para o Oriente), porque o movimento do tremor segue essa direcção e prolonga-se pelo curso dos rios? (pag. 404). A sciencia já então tinha feito esta e outras descobertas».

A estas observações da illustre escritora acrescentaremos que, se realmente se obedeceu a esse principio scientifico, não se pode regatear ao grande Pombal a gloria de mais essa forma superior por que a sua obra foi executada; mas de justiça é igualmente reconhecer que os engenheiros que tal obra executaram conheceram e souberam applicar esse importante preceito.

[Figura: Manuel da Maya]

Os engenheiros encarregados da reedificação de Lisboa foram, pela sua ordem, Eugenio dos Santos, Carlos Mardel, Reinaldo Manoel[2] e Manoel Caetano. De todos estes dá noticia Jacome Ratton, um contemporaneo, nas suas Recordações [3], onde se encontram interessantes pormenores relativos á cidade de Lisboa depois do terremoto. De Eugenio dos Santos diz:

«A planta e prospecto (para a reedificação) foi dado pelo primeiro architecto da cidade, chamado Eugenio dos Santos, da escola das obras de Mafra. Nesta planta se conservaram as praças e largos quasi com as mesmas dimensoens que dantes tinhão, alargando-se, e endireitando-se as ruas que erão nimiamente estreitas e tortuosas; e nestas se assignou, quanto possivel foi, o chão de cada proprietario, para edificarem, dentro em prazos determinados, por si ou por outrem, sob pena de os perderem; prasos que se foram prorogando; por maneira que me não consta que alguem perdesse o seu terreno. A Inspecção taxou o preço de cada palmo de frontaria, conforme a situação das ruas, para que não querendo ou não podendo o proprio dono do chão edificar, podesse qualquer outro edificador comprallo á Inspecção, a qual entregava o dinheiro da compra ao dono do chão.

«Ouvi que fora o projecto de se não consentir, em rasão dos terremotos, que as casas da cidade nova tivessem mais do que lojas e dois andares; mas que em attenção ás representaçoens dos edificantes, que não podião ter interesse algum em edificar casas de tão poucos andares, veio o Governo a consentir que se edificassem de tres e agoas furtadas; e então se principiou a edificar segundo o prospecto que dera Eugenio dos Santos, consistindo em 1.^o andar de sacadas, 2.^o e 3.^o, e agoas furtadas de janelas de peito; á excepção das casas da Praça do Rocio, as quaes tem, não sei porque, no 1.^o andar janellas alternadas de sacada e de peito; o que faz com que esta praça perca huma grande parte da bellesa que podia ter. As agoas dos telhados erão recebidas em meios canaes praticados no cimo das paredes, e conduzidas á rua por canaes praticados nestas, o que dava hum ar de nobreza ás frontarias, não se vendo as biqueiras; e muito commodo aos viandantes. Este risco veio depois a alterar-se no successivo reinado, não só praticando-se 4.^{os} e 5.^{os} andares sem sacadas, ou com sacadas em todos elles, mas deixando-se cair por biqueiras as agoas á rua; e para mais depravado gosto, estabelecerão varandas, e sobre varandas nos 4.^{os} e 5.^{os} andares, cuja enxelharia he lavrada a maneira de telha e pintada da mesma côr. Parece impossivel que tal reedificação viesse á lembrança dos habitantes de huma Cidade sujeita a terremotos, e que tinha soffrido os effeitos do de 1755. He verdade que as casas construidas de madeira do 1.^o andar para cima, crescendo depois as paredes de pedra e cal, como accessorias, são hum abrigo aos desastres que podem resultar de hum terramoto, para as pessoas que se acharem dentro dellas, e não tiverem o desacordo de sahir para a rua; mas desgraçados dos que se acharem nas ruas, se o abalo derrubar as paredes; porque a enxelharia dos 4.^{os} e 5.^{os} andares não deixará nenhum vivo.

Ao primeiro risco da cidade baixa, e ruas principaes ajuntou o architecto os necessarios e utilissimos passeios; e não sei porque fatalidade deixa de os haver na maior parte das ruas de Lisboa que os podem admittir; comtudo não lhe louvo a bordadura dos colonellos, que alem da despeza, e extravagante configuração, occupão hum lugar nos passeios tirado aos viandantes, devendo só existir nas esquinas, para impedir que os carros e carroagens passem, ao voltar, por cima dos pavimentos. Mas o que he imperdoavel nesta nova reedificação, he que todas as ruas não tenhão canos, e todas as casas, cloacas, para o despejo das primeiras immundicias; he verdade que o dito architecto deo o risco dos canos que se achão em algumas ruas da cidade nova; mas tão dispendiosas pela pedra lavrada que nelles se empregou, que julgo ser esta a causa de os não haver nas mais ruas; e tão defeituosas na sua configuração que não preenchem, ou preenchem mui mal os fins para que são destinados. Primeiramente por terem pavimentos chatos subindo as paredes lateraes em angulos rectos, nos quaes se depoem as immundicias; e em segundo lugar por darem entrada ás agoas da maré, diffundindo-se nas casas hum fedor tal, que as torna quasi inhabitaveis, o que tudo se pode emendar em aquelles que de novo se fizerem: 1.^o construindo-se de tijolo, por ser mais barato, e em forma eliptica para se não estagnarem as immundicias; 2.^o ficando suas desembocaduras superiores ás agoas das enchentes do Tejo; 3.^o encanando-se-lhes as agoas dos telhados, ruas e cosinhas, para os conservar sempre lavados; providencias que se devem igualmente estender a toda a cidade velha, e sem as quaes a fedorenta cidade de Lisboa, será sempre hum manancial de molestias, a vergonha da nação, e hum objecto ascaroso pelos montões de immundicias accumuladas nas ruas, por effeito do descuido inveterado de se não varrerem, e se não tirarem com a devida regularidade, não obstante as rendas que ha destinadas para isso».

É um interessante quadro de Lisboa do seculo XVIII, antes do terremoto.
Quem o quizer conhecer completo leia o livro de Ratton.

Seguem-se considerações que por extensas não transcrevemos, mas que, com o trecho que deixamos reproduzidos, servirão para confrontar as ideias do tempo e o que Ratton indica como realisado, attribuindo-o ao executor Eugenio dos Santos, com o que na importante memoria inedita, que adeante publicamos, Manuel da Maya apresenta como plano dos diversos serviços a executar, revindicando para este engenheiro a legitima gloria de as haver preconizado e indicado aos poderes publicos.

Continuando, diz Jacome Ratton:—«Succedeo a Eugenio dos Santos hum architecto allemão (aliás hungaro) chamado Carlos Mardel, o qual seguiu o mesmo plano do seu antecessor para a reedificação da cidade. Ignoro se foi por algum destes, ou por ambos suggerida a ideia de se construir o Palacio Real no sitio de Campo de Ourique; mas sei que foi no tempo de Mardel que se levantou a planta, e se collocarão os marcos, dos quaes ainda existem alguns junto á Igreja de St. Isabel, Fonte Santa, Prazeres e S. João dos bem casados. Muito tempo se trabalhou nos desenhos, e cuido que ainda existem na casa do risco. Entrava tambem no projecto fazer-se navegavel o rio Alcantara para nelle entrarem os Escaleres Reaes até o Palacio; mas depois do fallecimento do sr. Rei D. José não se cuidou mais neste projecto, e depois do incendio do Palacio da Ajuda, se adoptou aquelle sitio para a construcção de hum novo Palacio».

Tambem neste particular do sitio onde se devia construir o palacio real é de interesse a leitura da referida memoria de Manuel da Maya. O livro de Jacome Ratton é hoje raro; estimarão por isso os especialistas em assuntos de engenharia, a quem este nosso trabalho é particularmente destinado, conhecer estes trechos que reproduzimos, sem terem de recorrer aos «reservados» das bibliotecas; a outros abrirá o apetite de conhecer a obra.

Segue se a informadora narrativa de Ratton:

«A Carlos Mardel succedeu Reinaldo Manoel, e deste não sei cousa notavel, a não ser o desenho e estabelecimento do passeio publico em 1764, sobre humas hortas, que alli existião, chamadas as hortas da cera, nas quaes se deitarão os entulhos das ruinas da Cidade baixa; e fui eu que dos meus viveiros da Barroca d'Alva dei todas as arvores freixos que se achão no dito passeio»…

«A Reinaldo Manoel succedeu, em architecto da Cidade e da Casa Real, Manoel Caetano, se me não engano, que ouvi ter sido canteiro, e tinha algumas luzes de desenho, sem comtudo possuir os estudos da arte de architectura, nem a disposição natural para isso, como provão as obras que dirigio como architecto; entre as quaes especificarei a Igreja da Incarnação de fronte do Loreto; obra de muito custo, mas de nenhum gosto, nem ordem alguma de architectura; a casa do Mantegueiro na rua da Horta seca, chamada pelo seu dono Domingos Mendes, Palacete; e a sua propria casa edificada no sitio que se destinou para o Erario novo, a qual era muito parecida com a torre que o tendeiro da Esperança mandara construir junto á rua da Procissão, na Cotovia de cima. Esta casa foi demolida e paga pelo Governo, ficando ao architecto os materiaes; e dando-lhe o mesmo Governo hum chão de fronte da Fabrica da seda, onde construio huma nova casa excessivamente maior do que a primeira, mas tão destituida de ordem e gosto que basta olhar para ella para se julgar do merecimento do author. Penso ter sido elle o introductor da moda de figurar andares de casas sobre telhados contra todo o senso commum. Tambem julgo ter tido parte na planta do palacio novo da Ajuda, que pouco depois se confiou aos dous architectos de profissão José da Costa e Silva, e Francisco Xavier Fabri; o primeiro Portuguez, o qual aprendeo em Roma, e deo provas do seu talento na construcção do theatro de S. Carlos em Lisboa, e na do hospital de Runna mandado construir por Sua Alteza a Serenissima Princeza do Brasil viuva: o segundo Italiano de nação, que fez a planta pela qual se construio o Porto franco; e que supponho ficou com aquella que eu fiz, de que já fallei. Tambem no Ministerio do Conde de Linhares dirigio o accrescentamento que se fez na cordoaria para accommodação de tiares de lonas, e segundo ouvi foi quem fez o risco, e dirigio a construcção do palacio do Marquez de Castello Melhor, junto ao passeio publico».

Embora se não trate de construcções militares, tem interesse estas informações de um contemporaneo que assistiu ao terremoto e á reconstrucção da cidade que, segundo elle informa, se reduzia a «hum recinto que abrangia o bairro de Alfama, bairro do Castello, Mouraria, rua nova, Rocio, bairro alto, Mocambo, Andaluz, Anjos e Remulares; toda a mais extensão que foi convertida em cidade, como campo de St.^a Clara e suas visinhanças, campo de St.^a Anna, Salitre, Cotovia de baixo e de cima, Boa Morte e Alcantara, apenas tinham algumas casas, aqui e acolá, á borda de caminhos que atravessavam por terras cultivadas».

É tradição, embora não a encontremos confirmada, que os arcabouços (gaiolas) de madeira, innovados para a construcção dos edificios, foram entre nós adoptados então para dar ás paredes maior flexibilidade e equilibrio, cabendo evidentemente aos engenheiros que trabalharam na obra da reedificação essa iniciativa. Ao engenheiro Carlos Mardel, que tão largo quinhão teve nesses trabalhos, sobretudo depois da morte do engenheiro Eugenio dos Santos e Carvalho[4], é attribuida essa innovação[5]; mas não ha, que nos conste, documento que o prove. Na importante dissertação inedita de Manuel da Maya, que adeante publicamos, relativa aos trabalhos para a reedificação de Lisboa, ha referencia a edificios de madeira e aos de pedra e cal, e se fala do «horror em [~q] se achava o publico contra edificios [~q] não fossem de simples madeira», o que parece evidente não se referir á adopção das gaiolas de madeira para a edificação; mas ás barracas de madeira que se tinham construido. Seria dessa preferencia pelas construcções de madeira, principalmente empregadas para resistir aos embates do mar, nas praias, que teria vindo originariamente, entre nós, a ideia da armação de madeira p.^a as nossas edificações, independentemente do que se passava noutros paises? E porque não? Temos geralmente tendencia para desluzirmos as nossas iniciativas proprias, querendo attribuir a sua paternidade a estrangeiros; mas em cerebros portugueses tambem germinam ideias novas, como o prova o nonio , o aerostato de Bartholomeu de Gusmão, e tantas outras. Mas tambem pode ser que fosse realmente á experiencia por Carlos Mardel adquirida na Hollanda que se devesse a innovação.

Carlos Mardel, natural da Hungria, como diz a tradição, ou de origem francesa, como suspeita o Sr. Sousa Viterbo[6], deixou o seu nome ligado aos trabalhos da reconstituição da cidade, como o ligou tambem a outras importantes obras publicas e particulares; pois que, alem de architecto das Aguas Livres, dos paços reaes e das tres ordens militares, e de varias obras religiosas, como veremos, foi medidor das fortalezas da barra, fallecendo no posto de coronel de infantaria com exercicio de engenheiro. Entre as obras notaveis que traçou estão as da reconstrucção do Real Collegio de S. Paulo de Coimbra em 1752.

[Figura: Carlos Mardel]

Em novembro de 1755 foi o engenheiro Carlos Mardel encarregado pelo Cardeal Patriarcha de Lisboa de ver o estado em que estava a Igreja de S. Bento depois do terremoto, sobre o que elle informou que «achou toda a igreja em muito bom estado, sem ter recebido damno algum e em excellente estado de servir; porem a sacristia he a peyor e incapaz de servir, e em lugar della achei hum grande refeitorio e casa de profundis diante do Refeitorio, ambas escusadas para os Padres do dito Mosteiro, as quaes são misticas ao lado da Epistola da Capella mór; e abrindo-se porta para a Igreja no mesmo lado, temos tudo o que for mister para accommodar a Patriarchal, e ainda com mais abundancia do que aonde estava antes».—Em vista disso passaram para aquella igreja os officios da Patriarchal.

Succedeu porem que sendo a informação de Carlos Mardel de 17 de novembro, no dia 19 desse mesmo mez ia o capitão engenheiro Eugenio dos Santos e Carvalho informar o Patriarcha de que, embora concordasse com o parecer do seu collega quanto á segurança do corpo e cruzeiro da referida Igreja, «se lhe fazia suspeitosa uma parede da Capella que, sendo ordinaria, se pode reparar com modica despeza».—Foi este parecer seguido; e fez-se a obra completa sob a direcção do então tenente coronel Carlos Mardel e do capitão Eugenio dos Santos[7].

Entre as curiosidades apresentadas na Exposição de Cartographia da Sociedade de Geographia, em 1903, figurava uma Planta topographica da cidade de Lisboa arruinada, e tambem segundo o novo alinhamento dos architectos Eugenio dos Santos e Carvalho e Carlos Mardel , feito por João Pedro Ribeiro. Pertence á Direcção dos Trabalhos Geodesicos[8].

[Figura: João Frederico Ludovici, Architecto-mor]

Mas embora os nomes de Eugenio dos Santos e Carvalho e Carlos Mardel, que Manuel da Maya considerava «alem de engenheiros de profissão, os primeiros architectos na architectura civil», sejam os que mais soam e mais elevado quinhão representam nesses memoraveis trabalhos herculeos, muitos foram os engenheiros militares que nelles tiveram parte sob a direcção de Manuel da Maya. Na importante Memoria d'este celebre engenheiro-mor, que em seguida publicamos, veem citados, alem dos nomes de Mardel e Eugenio dos Santos, os do capitão Elias Sebastião Pope e Pedro Gualter da Fonseca, e praticantes Francisco Pinheiro da Cunha e José Domingos Pope, como tendo sido por elle eleitos para o auxiliarem na monumental obra da reconstrucção da cidade. Reynaldo Manuel se chamava, como vimos, o engenheiro nomeado p.^a substituir Carlos Mardel nas obras da reconstrucção de Lisboa, quando este morreu em 1763. Jacome Ratton fala com encarecimento de um engenheiro militar, estrangeiro mas que muitos serviços prestou entre nós. E João Frederico Ludovici, o celebre architecto de Mafra, e que Ratton apresenta como sendo o que mais geito e arte mostrou na traça e edificação das casas particulares em Lisboa. Já tinha fallecido quando foi do terremoto; mas a cidade já se embellezara com a sua arte.

«Se pelas obras que os architectos edificão para sua propria habitação, escolhendo a localidade, e sem outra sugeição que as suas forças, se pode julgar do seu merito, diz Ratton, indicarei as que entrão neste caso, relativas aos quatro architectos do meu tempo, empregados pelo Governo. João Pedro (aliás João Frederico) Ludovici, que já era architecto no Reinado do Senhor D. João V, e o continuou a ser até depois do terremoto de 1755, construiu para sua morada aquella barraca, na calçada da Ajuda, aonde assistio Martinho de Mello e Castro, e edificou huma casa de fronte da torre de S. Roque que tem todo o ar de nobre; e creio que em razão desta obra se construiu a muralha de S. Pedro de Alcantara com o pretexto de se fazer alli hum passeio, o qual se não chegou a realizar; mas que seria bem util pelo ponto de vista que offerece. Tambem supponho que foi este architecto quem projeitou e deo o plano das obras dos arcos das aguas livres; mas se não foi elle, foi pelo menos o que as continuou. Eugenio dos Santos que deo a planta da reedificação da cidade construio humas grandes casas de cimo da calçada da Estrella, com muito má serventia para carroagens, e sem outra luz na escada que a que entra pelas sobrepostas. Carlos Mardel edificou para a sua habitação aquella casa que se acha ao lado oriental da Igreja de St.^a Isabel junto ao cemiterio, e por baixo da torre dos sinos. Manoel Caetano edificou as de que já fallei. Á vista do que todos convirão comigo que o que tinha melhor tino era João Pedro Ludovici.»

João Frederico Ludovice, o notavel architecto do convento de Mafra, era desde 11 de setembro de 1750 architecto-mór do reino com patente, soldo e graduação de brigadeiro de infantaria, na primeira plana da Côrte; nascera na Allemanha, de familia francesa, e naquelle país exercia a profissão de engenheiro militar, tendo porem vindo para Portugal chamado pelos jesuitas pela sua especial pericia de ourives, metallista; mas os seus variados talentos postos em acção entre nós lhe deram o justo galardão de se reconhecer que «á sua doutrina se devem o grande adiantamento em que se achavam as artes em Portugal[9]».

E não só em Lisboa, mas em outros pontos do país eram requeridos os serviços dos nossos engenheiros militares, quer na sua especialidade, quer noutros ramos do serviço. Assim, tendo o terremoto arrasado a villa de Setubal, foi João Alexandre de Chermont, coronel de infantaria com exercicio de engenheiro, mandado em 14 de novembro de 1755 tomar conta d'aquella villa, com jurisdição completa, para adoptar as providencias necessarias[10].

E nesse calamitoso periodo, e antes e depois, e sempre, de engenheiros militares se valeu o governo para os serviços da maior responsabilidade.

De tres engenheiros, encarregados em 1761 da demarcação das quatro leguas exclusivas do districto concedido á Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, á roda da cidade do Porto, temos noticia: são o sargento-mor de infantaria e engenheria Francisco Xavier do Rego, e os seus ajudantes, o tenente Adão Wencelao Hetsk e Francisco Pinheiro da Cunha. Por curiosidade reproduziremos adeante o resultado d'essa demarcação, que em manuscrito se conserva na Academia Real das Sciencias de Lisboa[11].

E de quantos outros não poderiamos dar aqui informação. De grande numero d'elles daremos noticia na nossa Historia da Engenharia Militar .

* * * * *

Quando, das ruinas d'esse horrivel terremoto, a energica vontade do Marquês de Pombal fez erguer, alinhada, garrida e bella, a nova cidade, os engenheiros militares foram os auxiliares principaes d'essa vontade de ferro. O engenheiro-mor Manuel da Maia e os seus officiaes dirigiram e executaram as principaes obras.

Por decreto de 29 de novembro de 1755 era ordenado que «os Ministros, que se achavam encarregados da inspecção de cada um dos bairros da capital, de commum accordo com os officiaes de Infantaria com exercicio de Engenheiros, destinados para esta deligencia, fizessem logo, e sem perda de tempo, cada qual delles uma exacta discripção do respectivo bairro de que se achava encarregado, declarando-se nella distincta e separadamente a largura e comprimento de cada uma das praças, ruas, beccos e edificios publicos, que nelle se continham; e cada uma das propriedades particulares que existam nas sobreditas ruas, praças e beccos, com a especificação da frente e do fundo que a ellas pertencia, comprehendendo nessa medição os quintaes, onde os houvesse, com as elevações ou alturas de cada uma das propriedades, e com especificação das paredes que fossem ou proprias de cada edificio, ou commum a ambos os dois visinhos confrontantes».

Assim se conseguiu evitar as reclamações e pleitos que decerto depois levantariam os proprietarios com respeito aos limites das suas propriedades, sem que houvesse maneira de saber se as baseavam na verdade.

Por Aviso de 11 de dezembro de 1755 foi ordenado ao Engenheiro-mor Manuel da Maya que «chamando á sua presença os officiaes de Infantaria com exercicio de engenheiros, que lhe parecessem mais habeis e expeditos, os mandasse passar os liveis necessarios para se conhecer e calcular com clareza os declivios que ha dos Mosteiros da Boa Hora, do da Annunciada, do de Corpos Christi, da Igreja da Magdalena, e S. Sebastião da Padaria, até ás cortinas do Terreiro do Paço e da Ribeira»; tinha isto por fim acommodar os entulhos em logares mais baixos.

Por Aviso de 22 do mesmo mês e anno foi ordenado a Manuel da Maya que «na conformidade das reaes ordens fizesse apalpar e abalizar pelos officiaes, que achasse mais expeditos e exactos, os terrenos de que se tratava, em forma que ficassem distinctamente demarcados os logares que se houvessem de entulhar e as alturas dos entulhos que nelles se haviam de lançar, para que fossem lançados com a devida proporção, onde mais conviesse e sem o perigo de se tornarem a mover, etc.».

Outro Aviso da mesma data ao Duque Regedor das Justiças (Duque de Lafões) para se nivelar a parte da cidade que ia entre a rua Nova do Almada e a Padaria, e para se pôrem marcos e balizas nas covas e declives, afim de se encherem com os desentulhos e ficar nivelado o Terreiro do Paço com as mesmas duas ruas em beneficio da reedificação da cidade, ordenava ao mesmo Engenheiro mor «que, pelos officiaes que achasse mais expeditos, fizesse pôr as sobreditas balizas com a brevidade que requeria a urgencia[12]».

São estas umas simples amostras do grande trabalho e da missão importante que aos engenheiros militares coube na reedificação da cidade, como lhes continua a caber no decurso dos tempos; pois que nomes de engenheiros do exercito muito distinctos estão ligados, não só a obras militares, mas civis, na historia do nosso país.

* * * * *

E melhor do que o poderiamos dizer, falará agora do grande papel que Manuel da Maia teve nesse grave momento da nossa existencia social a memoria (dissertação) que em seguida publicamos, por elle apresentada sobre a reedificação da capital, e que pela primeira vez damos á estampa. É dividida em tres partes: as duas primeiras conservam-se nos papeis de José Baptista de Castro na Biblioteca Publica de Evora; a terceira encontra-se, remettida do Archivo Militar, na Torre do Tombo. Devia ter uma quarta parte, que o auctor deixou de escrever[13]. Damos aqui publicidade ás tres partes que pudemos felizmente reunir, na certeza de que encontrarão o apreço e a estimação do leitor.

Ao Duque de Lafões, na sua qualidade de Regedor das Justiças, era dirigida essa dissertação , e do conceito e apreço em que foi tida reza o seguinte officio, cuja copia guarda a Biblioteca de Evora:

Ex.^{mo} Sr.

Agradeço muito a V. Ex.^a a atenção de partecipar-me a segunda parte da Disertação que tem escrito sobre a renovação da cidade de Lisboa destruida, e agora repito a V. Ex.^a o que a respeito destes papeis tenho representado a ElRey meu Snr., porque achei que V. Ex.^a comprehendeo com vastidão, discorreo com profundidade, e escolheo, a meu entender, com acerto, o modo que deve seguir-se. S. Mg.^e vai mostrando que segue o parecer de V. Ex.^a; ainda que a sua modesta escrupulosidade o duvide, e verdadeiramente só nesta parte me não parecem solidos os fundamentos da desconfiança de V. Ex.^a. V. Ex.^a he um vasalo tão util, como bom compatriota, e asim se percebe no zelo com que vigia sobre a saude publica, lembrando-se de que se deve dar correnteza ás aguas estagnadas na Praça do Rocio e na Rua Nova dos ferros. ElRey meu Snr. foi servido encarregarme de evitar aquele perigo, e pela medeação dos Ministros da justiça Inspectores dos Bairros desta Cidade, com bem ordenado trabalho, se vencerão muitas defficuldades, e entre grandes perigos não sucedeo a menor disgraça, achando-se desde a somana pasada esgotados completamente hum e outro lugar. Tenho entrado a recear nos possão agora prejudicar as muitas lamas que a cada paso se encontrão pelas ruas e o descuido que ha, e ouve sempre, em extrahir da superficie da terra quantidade de animaes mortos que se achão expostos: porem como esta incumbencia me não foi recomendada poupo-me ao maior pezar que seria o que me resultase de se poder acuzar a minha omição, o que para mim só era sensibilisimo. D.^s G.^e a Pesoa de V. Ex.^a m.^{tos} an.^s. Cerca das Necessidades a 5 de Março de 1756.

Ex.^{mo} Snr. Manoel da Maya.

Mais attento serv.^{or} de V. E.

Duque de Lafões[14] .

Eis agora o trabalho apresentado por Manuel da Maia, e que, embora pouco nitido sob o ponto de vista litterario, honra e justifica a alta reputação do engenheiro, pois representa todo um complexo plano de obras de aterramento, de esgotos, de hygiene, de alinhamento de ruas e travessas nas partes da cidade a reconstituir ou a construir de novo, de construcção de edificios publicos, entre elles os Paços Reaes, a Biblioteca e as Alfandegas, e tambem particulares, nas devidas condições de segurança contra tremores de terra e de isolamento do fogo; da forma dos predios, sem passagens cobertas para evitar attentados nocturnos; da salvaguarda dos terrenos destinados a servidões militares junto ás fortificações da cidade, e de tantos outros assuntos importantes que curioso é seguir entre o emmaranhado da prosa do illustre militar, e que, como vimos já, lhe vem dar a primazia de muitas iniciativas que lhe não eram attribuidas.

A parte 3.^a da dissertação é muito interessante, porque trata dos serviços de limpeza da cidade, esgotos, abastecimento de agua, bocas de incendio, reconstrucção dos edificios do Terreiro do Paço, largura e estructura das ruas, á laia das de Inglaterra, com as respectivas plantas traçadas por Manuel da Maia, e que é pena se não saiba onde param, para ver se foram realmente seguidas, quando taes edificios e ruas se fizeram.

Debaixo de muitos pontos de vista ha de esta memoria interessar aos estudiosos. Diz o seguinte:

*1.^a Dissertação sobre a renovação da Cidade de Lisboa por Manoel da Maya, Engenhr.^o mor do R.^{no}*

1.—Reconhecida, e observada a destruição da cid.^e de Lix.^a (no 1.^o de Nov. de 1755)[15] he precizo intentar-se a sua renovação, e como esta se pode executar por diversos modos, parece tambem precizo que estes se preponderem p.^a entre elles se fazer eleição do [~q] se conhecer com mais ventagens, e menos inconvenientes. Os modos que me occorrem são os seguintes.

2.—O primr.^o restituila ao seu antigo estado, levantando os edificios nas suas antigas alturas, e as ruas nas suas mesmas larguras. Este 1.^o modo suppoem, [~q] o terremoto passado não he pronostico de outro; e que assim como em m.^{tos} annos ant.^{es} senão experimentou outro sem.^e assim se não pode esperar subsequente; e [~q] por esta forma se restituirá Lix.^a promptissimam.^{te} ao seu antigo estado, e com edif.^{os} melhorados por novos; recebendo e acomodando o mesmo n.^o de gente, e obtendo os proprietarios os seus antigos rendim.^{tos} ficando Lix.^a deste modo com alg[~u]a melhora do [~q] dantes era; servindo os mesmos destroços, e ruinas p.^a a erecção dos edif.^{os} evitando o trab.^o e despeza dos dezentulhos; cuja acomodação se faz mui dificil, e talvez de prejuizo, onde os quizerem acomodar, ou seja no mar ou na terra.

3.—O 2.^o modo, levantando os edificios nas suas antigas alturas, e mudando as ruas estreitas em ruas largas. Este 2.^o modo tambem despreza a precaução do terremoto, e attende em pr.^o logar a melhor serventia do publico pela largura das ruas, e conservando nas alturas das cazas abundantes commodos p.^a os habitadores, [~q] restarão livres do horrivel flagello, e p.^a os proprietarios a mayor p.^{te} dos rendim.^{tos}, ficando a cid.^e mais formosa do [~q] d'antes era, com boas entradas, [~q] p.^a ella se poderão fazer no terr.^o do Paço, evitandose passagens cobertas, e melhorandose alguns edificios mayores arruinados; ficando deste modo Lix.^a com conhecidas ventagens, e conservandose em m.^{ta} p.^{te} os interesses dos prejudicados nas ruinas, o [~q] não deixa de merecer attenção.

4.—O 3.^o modo, diminuindo as alturas a dous pavim.^{tos} sobre o terreo, e mudando as ruas estreitas em largas.

5.—Este 3.^o modo se acautela contra sem.^{es} assaltos, diminuindo as alturas dos edif.^{os} por se temerem nos mais altos as ruinas mais certas, e de mayores prejuizos: como p.^{lo} contr.^o nas ruas mais largas mayor facilid.^e p.^a se escapar dos destroços, [~q] nas estreitas serv[~e] de grande impedim.^{to} ao retiro.

6.—O 4.^o modo, arrazando toda a cid.^e baixa, levantandoa com os entulhos, suavizando assim as subidas p.^a as p.^{tes} altas, e fazendo descenso p.^a o mar com melhor correnteza das aguas, formando novas ruas com liberd.^e competente, tanto na largura, como na altura dos edif.^{os} [~q] nunca poderá exceder a largura das ruas. Este 4.^o modo não só attende, como o terceiro, a prevenção de sem.^e flagello, assim na observação da altura das cazas, como na largura das ruas, mas a facilitar a difficil acomodação dos dezentulhos, servindose delles p.^a suavizar a aspereza das serventias da cid.^e baixa p.^a a alta, e expelindo tambem as aguas com melhor exito p.^a o mar, livrando Lix.^a baixa das inundaçoens [~q] padece em occasioens de maré chea.

7.—O 5.^o modo, desprezando Lix.^a arruinada, e formando outra de novo desde Alcantara até Pedrouços; com permissão porem de [~q] os donos das cazas de Lix.^a arruinada as podess[~e] levantar como quizessem. Este 5.^o modo se facilita mais [~q] todos; por[~q] em pr.^o lugar não tem [~q] vencer dificuld.^{es} de dezentulhos, e suas acomodaçõens: offerece campo docil, e livre das emin.^{as} de Lix.^a antiga, sem necessid.^e de averiguar o estado das cazas [~q] se devam conservar ou derribar, nem ouvir clamores dos donos das [~q] inteiram.^{te} se desprezarem, e sobre tudo a grande despeza, [~q] na compensação destes prejuizos se fará por qualquer modo [~q] se pretenda fazer. Edificarse com mais gosto pelas melhoras que geralm.^{te} se reconhecem no terreno e prayas do sitio de Bellem, e suas vizinhanças, livrando os habitadores do horror [~q] conceberão na destruição da cid.^e arruinada; e com incomparavel brevid.^e e boa organização de ruas e de edif.^{os} [~q] formarã h[~u]a Lix.^a nova, sem [~q] os dominantes dos edif.^{os} de Lix.^a destruida tenhão de [~q] se queixar, pois se lhe não faz viol.^a alg[~u]a, nem se lhes impede a reedificação dos seus edif.^{os} p.^a se valerem delles á sua vontade. Acrece mais, [~q] ainda [~q] se lanse mão de qualquer dos ant.^{es} modos, 2.^o, 3.^o e 4.^o em [~q] as ruas se alargão, sempre hade ser precizo estenderse Lix.^a até Bellem, ou ainda a mayor dist.^a p.^a acomodação da m.^{ta} gente [~q] ficará necessitada de commodo por causa da diminuição das cazas; pois [~q] as de quatro e sinco pavim.^{tos} ficarão convertidas som.^{te} em dous; e em h[~u] sitio em [~q] havia quatro ou 5 ruas, ou mais, se converterão em duas ou 3 ao m.^{to}: e se depois de vencer m.^{tas} dificuld.^{es} com grandissimo trabalho, dispendio, e dilação de tempo, se hade procurar o asylo de Bellem, melhor parecia buscarse logo p.^a mayor facilid.^e satisfação do publico, e escuza de despeza. Tambem a sumersão do novo caes da Alfandega do tabaco, parece estar aconselhando [~q] se não avezinhem a hum lugar [~q] mostra estar combalido de contr.^o fortissimo, [~q] poderá continuar em o perseguir, e a tudo [~q] o acompanhar. Tambem parece favorecer esta opinião o acharemse em Portugal alg[~u]as cid.^{es} e povoaçoens [~q] conservão os nomes de outras destruidas, cujas ruinas se percebem ainda em dist.^{as} proximas, sem se especificar a razão daquella repitição de nomes, e de lugares; mas discorrendo qual poderia ser, nenh[~u]a razão me occorre mais propria e competente p.^a este efeito do [~q] outra sem.^e a [~q] temos diante dos olhos, fazendo antes eleição de formar h[~u]a cid.^e e povoação nova em sitio mais favoravel, do [~q] renovar h[~u]a destruida por sem.^e accidente. Tambem pode fazer pezo nesta eleição a observação de ser mais violento e eficaz o efeito do terremoto na p.^{te} mais repleta de habitantes cujos excretos, penetrando e permeando mais os poros da terra, possão concorrer com mayor adjutorio p.^a a formatura do terremoto, ou atrair a si os seus efeitos com mais sem.^e e abund.^e simili. O [~q] podendo ser assim tambem aviza, [~q] se evite q.^{to} for possivel a continuação de hum tal atractivo. Persuado-me ter lido [~q] já Lix.^a padeceo perseguição de terremotos por tempo de um anno; e como o fogo me consumiu todo o adjutorio de [~q] me valia p.^a narrar com segurança, não poderei determinar o tempo nem o vigor de seu principio, nem alg[~u]as mais especialid.^{es} que occorrerão; mas sempre pode servir de exemplo, de [~q] a communicação dos taes excretos possa servir de alim.^{to} p.^a sem.^e destroço. A multiplicidade de terremotos, que tem padecido Constantinopla cid.^e populosissima parece corroborar esta supposição: quae sola non profunt, multa collecta juvant .

8.—Atéqui o [~q] me occorreo dizer a favor de cada hum dos sinco modos possiveis p.^a a renovação de Lix.^a; resta-me declarar o [~q] se poderá dizer em contr.^o p.^a ver se com estas ponderaçoens me poderei determinar a tomar algum partido em forma [~q] se não possa dizer [~q] o fiz sem estas antecedencias.

9—-No 1.^o modo encontro a falta de atenção ao melhoram.^{to} de hua cid.^e que se edifica de novo conservandolhe as ruas estreitas, o [~q] as fas de aborrecivel uzo, e as cazas m.^{to} altas com o horror que das suas alturas se tem concebido; não obstante poderse dizer, [~q] este horror hade ser de pouca duração, por[~q] em fazendo alg[~u]a pessoa veneranda edif.^o de mayor altura de dous pav.^{tos} logo outras de qualquer veneração a irão imitando, e consequentem.^{te} todas as [~q] tiverem com [~q] o fazer; por[~q] ao mesmo passo [~q] vai esquecendo o horror do terremoto, se irá esquecendo o da ley dos dous pavim.^{tos}. Sirva de exemplo a ley do alinham.^{to} p.^a [~q] as cazas [~q] se renovassem, se recolhessem até [~q] as ruas ficassem em certa largura, como a da rua dir.^{ta} das portas de S. C.^{na} onde se executou athé certo tempo, e se não continuou em alg[~u]a das cazas [~q] depois se renovarão ou se edificarão de novo.

10.—O 2.^o modo, ainda [~q] attende á formosura da cid.^e p.^{lo} [~q] toca a largura das ruas, tem o defeito de se não acautelar contra o flagello dos terremotos nas alturas dos edificios; e posto [~q] favorece aos donos dos edif.^{os} restantes em lhes conservar o n.^o dos moradores, e consequentem.^e os rendimentos, e tambem possão dizer [~q] a ley dos dous pavim.^{tos} terá o mesmo efeito [~q] a ley do alinham.^{to}, não são razoens subsistentes por dependerem do futuro.

11.—O 3.^o modo [~q] parece mais admissivel, por[~q] attende assim a formosura da cid.^e no espaçozo das ruas, e precaução dos terremotos nos dous pavim.^{tos} só permitidos, tem contra si os clamores dos donos dos edif.^{os} extinctos, e outros diminutos de rendim.^{tos} pela diminuição dos inquilinos, entre cujos clamores, serão m.^{to} distintos os dos Morgados, Eccles.^{os} e Irm.^{des} que costumão ser m.^{to} attendidos; como tambem tem contra si a acomodação dos dezentulhos, por[~q] alem dos [~q] se achão já occupando as ruas largas e estreitas, hade acrecer o de todas as casas [~q] se hão de extinguir inteiram.^{te} e mais [~q] tudo a gravissima despeza com [~q] se hade substituir a diminuição dos edificios extinctos ou em p.^{te} ou em todo.

12.—O 4.^o modo, posto [~q] vence ao 3.^o em evitar o embaraço dos duzentulhos, e em dar melhor serventia á cid.^e, sempre fica com o grave pezo de dar a cada hum a justa satisfação do [~q] lhe pertencer.

13.—O 5.^o modo, [~q] parece o mais facilitado, não deixará de ter contra si o interesse dos donos das casas edificadas nas ruas principaes de Lix.^a, receando [~q] se lhes diminuão o rendimento dos seus alugueis, aumentandose m.^{to} o n.^o das habitaçoens em p.^{tes} de differente eleição.

14.—O [~q] assim ponderado, resta fazer escolha de algum dos sinco modos de [~q] se não possa seguir arrependim.^{to}, no [~q] encontro grande dificuldade, e p.^a poder sair della, me tem occorrido, [~q] só a eleição [~q] S. Mag.^e fizer do sitio p.^a o seu Real Palacio poderá fazer pezar a opinião [~q] lhe for mais apropriada; por[~q] se S. Mg.^e for servido querer o seu novo e real Palacio no sitio de Bellem, fica o modo n.^o 5.^o infalivelmente adoptado e preferido a todos os outros; porem se S. Mag.^e fôr servido querer lançar mão de hum sitio salutifero, e superior apropriado p.^a cabeça de Corte com boas 4 communicações p.^a a cid.^e e p.^a o campo, aproveitando-se primr.^{a}m.^{te} do beneficio da agua livre de Bellas, e terreno firme e solido com bom livelam.^{to} e capacidade p.^a edificar com grandeza, he este o sitio entre S. João dos Bemcasados e o conv.^{to} de N. Sr.^a da Estrella com 4 communicaçoens de bom uso; a 1.^a p.^a o campo, interior do paiz por Campolide, e Sete rios: a 2.^a pelo Rato, Noviciado da Cotovia etc. a 3.^a p.^{la} rua nova de S. Bento, ou nova colonia; a 4 p.^{lo} cam.^o do S.^r da boa Morte, Fonte Santa, N. Sr.^a das Necessidades etc. até o mar, caminhos todos de bom livelam.^{to} e correntezas de aguas p.^a limpeza dos edif.^{os} e ruas depois de terem servido nas fontes e tanques do Real Palacio, e de hum Hospital na quebrada da cerca de S. Bento p.^a a p.^{te} do nascente, cuja pozição já escolhi q.^{do} se tratou do sitio p.^a o Hospital real de todos os Santos, por o reconhecer melhor no prez.^{te} tempo do [~q] o de junto a S. D.^{os} no rocio. Tambem não posso deixar de lembrar [~q] no tal novo e real Palacio se poderá formar hua Biblioteca publica por evitar o justo reparo de a não haver na Corte de Portugal, e junto a ella a casa do Real Archivo, [~q] ainda [~q] o terremoto o não destruisse, sempre necessitava de h[~u]a tal acomodação á imitação do Archivo Romano, pera o qual se entra pela Biblioteca do Vaticano. E p.^a o duplicado, de [~q] tambem ha grande precisão, se escolherá sitio separado.

15.—E determinado e escolhido este lugar d'entre S. João dos Bem casados e o conv.^{to} de N. Sr.^a da Estrella p.^a o novo e real Palacio, me parece se deve principiar a renovação da cid.^e de Lix.^a pelos edificios publicos, que são fabricados por conta da real fazenda, por serem os pr.^{os} fundam.^{tos} dos reaes subsidios quasi todos na marinha, p.^a o [~q] largará S. Mag.^e o seu Palacio antigo, assim como os Sr.^{es} Reys seus antecessores havião largado os em [~q] habitavão, [~q] se achão hoje servindo de outros uzos: e poderá tambem formarse a caza da bolça do neg.^o e tudo com as direcçoens, e formalid.^{es} não só segundo as not.^{as} das outras Cortes, mas com as melhoras [~q] occorrerem, e o bom discurso alcançar.

16.—As communicaçoens da 1.^a praça do terr.^o do Paço p.^a dentro da cid.^e se devem abrir as 1.^{as} em correspond.^a ás duas ruas dos ourives do ouro e da prata, evitando todas as pasagens cubertas [~q] são incidiosas de noite.

17.—As ruas de cazas [~q] de novo se fabricarão p.^a a communicação do novo Palacio com a cid.^e antiga se emprenderão depois das d.^{as} reaes obras; mas ou sejão edificadas de madr.^a ou de pedra e cal, nunca a altura das cazas excederá a largura das ruas, e q.^{do} as ruas forem mais largas [~q] a altura dos dous pavim.^{tos} sobre as logeas, nem por isso as cazas poderão subir a terceiro pavimento.

18.—E pelo [~q] pertence a renovação da cid.^e arruinada me acomodo ao 4.^o modo já assinado, valendome de conservar os entulhos p.^a dar mayor altura ao pav.^{to} da cid.^e baixa, principiando a alteala do adro do conv.^{to} da Annunciada, do adro do conv.^{to} de N. Sr.^a da Boa Hora, do adro da Ermida de N. Sr.^a da Assumpção da rua dos ourives da prata, e a esta imitação todas as mais ruas [~q] estiverem no mesmo livelam.^{to} formandose h[~u]a tal descida p.^a o mar [~q] vá fenecer pela porta da Alfandega do tabaco.

19.—P.^a se poderem dirigir as ruas na forma mais regular se sinalarão primr.^o com bandeirolas firmes todas as ruas destruidas p.^a se reconhecer por este modo o terreno [~q] occupavão as cazas e ruas, e poderse emmendar com clareza, o [~q] se julgar necessr.^o evitando-se deste modo o perigo [~q] pode haver q.^{do} unicam.^{te} se guiarem por plantas, como já tem sucedido, e poderse sobre esta not.^a pratica e palpavel tomar a rezolução de como se hão de suprir as diminuiçoens [~q] houverem nas propried.^{es}, o [~q] necessita de m.^{to} especial attenção.

20.—Parece porem preciso determinarse se nas ruas principaes deste bairro baixo e plano se devem formar columnatas como havia na rua nova dos ferros e confeitaria p.^a comodid.^e da passagem da gente em tempo de inverno, e chuvoso, não excedendo porem a altura das cazas os d.^{os} dous pavim.^{tos} hum dentro das columnatas, e outro sobre ellas.

21.—Declaro [~q] o reservar p.^a ultimo lugar esta operação he p.^a dar tempo a [~q] o grande n.^o de corpos immersos pelos entulhos não possão produzir alg[~u]a corrupção no ar, descobrindose, e pela mesma razão procuro tambem altear as ruas p.^a não haver tanta necessid.^e de os revolver; pertendendo tambem com esta dilação suspender o horror em [~q] o publico se acha contra os edif.^{os} [~q] não são de simples madr.^a alem de que por falta de meyos receyo m.^{to} que haja grande difficuld.^e em edificar de outro modo, por[~q] os incendios extinguirão quasi todos os cabedaes dos habitantes de Lix.^a.

22.—Nesta pr.^a parte da prez.^{te} Dissertação procurei expressar em generalid.^e o [~q] na imaginação embaraçada com hum tão raro caso me foi possivel revolver, sujeitandome de m.^{to} boa vont.^e a toda a correcção judiciosa, [~q] emmende melhor ou reprove o [~q] achar [~q] o merece, por[~q] do mesmo modo [~q] estimaria tivesse boa aceitação o que proponho, igualm.^{te} estimarei a justa reprovação antes [~q] a execução o embarace; com a differença som.^{te} que deixarei de me empregar em segunda e individual parte, se na pr.^a me tiver afastado do [~q] for mais conveniente ao Real serv.^o e bem do publico; pois [~q] nas individuaçoens periga m.^{to} mais o acerto q.^{do} a generalid.^e se tem afastado da rectidão. 4 de Dez.^o de 1755. Lix.^a M.^{el} da Maya[16].

*Segunda p.^{te} da Dissertação sobre a renovação da Cid.^e de Lisboa por Manoel da Maya Mestre de campo general, Engenheir.^o mor do R.^{no} e Guarda mor da Torre do Tombo*

1.—Visto parecer que vai tendo alg[~u]a aceitação a 1.^a p.^{te} da minha Dissertação sobre a renovação da Cid.^e de Lix.^a he precizo animarme a individuar a 2.^a, como prometi no ult.^o § da 1.^a, não obstante terlhe reconhecido m.^{to} mayor dificuld.^e. Valerme-hei porem do mesmo methodo [~q] segui na 1.^a, indagando por p.^{tes} a natureza de todas as que me propuzer p.^a fazer eleição, p.^a [~q] q.^{do} não chegue a determinarme inteiram.^{te}, ao menos mostre [~q] as ponderei até onde a minha possibilid.^e pode alcançar, ficando assim aberto o cam.^o p.^a q.^m com melhor vista possa reconhecer distintamente as ventagens e os defeitos [~q] eu não chegar a perceber.

2.—Procedo na suposição de S. Mag.^{de} fazer eleição do sitio medio entre S. João dos Bem casados e o Conv.^{to} de N. Sr.^a da Estrella p.^a o seu novo e real Palacio, ficando aquelle sitio cabeça e parte principal da Corte e Cid.^e de Lix.^a, ao [~q] precizam.^{te} se hade seguir a renovação do corpo da mesma cid.^e destruida, p.^a o [~q] se mostra m.^s apropriado o 4.^o modo da renovação da cid.^e expressado no § 6 da d.^{ta} 1.^a parte [~q] diz assim etc.

3.—Que se queira renovar a cid.^e baixa he p.^a mim indubitavel; por[~q] ainda sem haver occazião tão forçosa, se tem mostrado esta vont.^e assim na rua nova do Almada [~q] se formou q.^{do} o bairo alto não tinha melhor serventia que a rua, ou beco dos Fornos, as ruas dos ourives de prata, e do Ouro, por onde não podia passar mais [~q] hum carro, e proximam.^{te} a preparação p.^a se alargar mais a d.^{ta} rua nova do Almada até a rua larga das portas de S. C.^{na}, formada assim em sincoenta e quatro palmos de largo pela ley do alinhamento [~q] não teve procurador [~q] a fosse fazendo executar em todas as p.^{tes} em [~q] houvesse renovacõens de cazas: e á vista dos referidos exemplos parece indubitavel a renovação de Lix.^a baixa. O que porem resta he eleger o meyo mais ajustado p.^a se conseguir este muy louvavel benef.^o, p.^a o que declaro [~q] q.^{do} expuz aq.^{le} 4.^o modo da renovação de Lix.^a, arrazando a sua p.^{te} baixa, foi na expectação de [~q] S. Mag.^{de} poderia escolher o meyo de tomar a si todos os edificios de tal p.^{to} da cid.^e depois de avaliados no estado em[~q] se achassem, p.^a [~q] depois de derribados e extintos, formadas novas ruas e novos logares p.^a os edificios novos, e repartida por elles a import.^a ou valor das cazas destruidas, e conhecido o que correspondia a cada palmo, vara ou braça quadrada, cada acredor de edificio recebesse em terreno a avaliação [~q] se lhe havia feito, e q.^{do} lhe não agradasse, se vendesse aq.^m desse a sua importancia p.^a a receber o acredor: e no cazo [~q] ainda nisto houvesse alg[~u]a duvida, mandasse S. Mag.^{de} edificar por sua conta p.^a recolher a seu patrimonio o rendimento por me parecer este o modo mais dezembaraçado e mais prompto, persuadindome [~q] assim se haveria observado em Turim e em Londres, q.^{do} alli se fizerão semelhantes renovaçoens; o que porem não posso segurar, porque o fogo me despojou de todos os meyos de que me costumava valer em occasioens sem.^{es} E q.^{do} eu vi que se mandava formar h[~u]a especie de Tombo dos edif.^{os} da cid.^e de Lisboa com as suas avaliacoens me pareceo estar adoptado este 4.^o modo de renovação; mas por[~q] bem pode suceder [~q] a mesma especie de Tombo possa tambem servir para outra diversa forma de renovação, segundo a nova ordem com [~q] se vão acomodando os entulhos, cada hum ao edificio de [~q] sahio, p.^a que cada dono se possa aproveitar dos materiaes que nelles achar, reedificando á sua custa, parece não se querer S. Mag.^e servir do dito 4.^o modo na forma de[~q] eu o havia proposto, derribando, e destruindo a Cid.^e baixa, levantandoa no que fosse proveitoso com os seus entulhos, p.^a [~q] depois com novos e melhores materiaes e nova forma, se reedificasse a cid.^e cuja idea parece desvanecida com a nova deligencia da accomodação dos entulhos e dos materiaes [~q] comprehende.

4.—Mas por[~q] se não pode entender q.^{ra} S. Mag.^e mandar conservar a cid.^e baixa com a mesma forma das ruas [~q] tinha, mas [~q] sempre hade querer [~q] os donos dos edificios as reduzão a melhor forma, me parece ser o tal modo o de conservar alg[~u]as ruas no seu proprio estado, como as ruas dos ourives do Ouro da Prata, a rua nova dos ferros, e ainda a dos Escudr.^{os} e Odreiros; mas que as ruas da correaria, das arcas, cutelaria, espingardr.^{os}, M.^l Gonçalo, Pixilr.^{os}, esteiras, e Mercadores, por detras de S. Julião p.^a a Conceição, e a rua nova da Palma se alarguem por h[~u]a p.^{te} ficando a outra conservandose no estado em[~q] se acha, mas [~q] esta p.^{te}, conservada pela melhora [~q] alcança e sem detrim.^{to}, na tal largura, concorra p.^a compensar a p.^{te} contraria o detrimento [~q] experimenta, assim na diminuição do valor da propriedade como da despeza da obra aque fica sujeita cuja resolução directamente pertence aos Ministros de S. Mg.^{de}. O que assim vencido resta saber se hade passar a mais a renovação da cid.^e baixa, formando-se ruas novas, como de S. Nicolau p.^a a rua nova dos ferros; do largo da Igr.^a da Victoria p.^a o Tronco, e dahi ao meyo da calcetaria; e outras [~q] se poderão formar de novo, destruindo m.^{tas} cazas inteiram.^{te} e cortando outras com m.^{ta} irregularidade, no[~q] me parece se encontrarão embaraços muy dificeis de ajustar e de compensar e [~q] serão mayores [~q] os proveitos [~q] se poderão tirar das taes innovaçoens de ruas: pelo [~q] me parece [~q] nesta forma de innovação seria mais conveniente [~q] senão entendesse, alem de alargar as ruas estreitas, conservadas por hum lado; por[~q] o despedaçar becos e cazas [~q] os acompanhão só me parece praticavel q.^{do} se arruinasse a cid.^e baixa inteiram.^{te} e se uzasse da sobred.^a compensação expressada no § 3. He preciso tambem determinar se as ruas [~q] se conservarem inteiras, como a rua nova dos ferros, a dos Douradores, a dos Escudr.^{os}, a dos Odreiros, [~q] não são inteiram.^{te} em linha recta, se se hão de obrigar seus donos a [~q] as emmendem, o[~q] tambem hade causar grande viol.^a e m.^{tos} requerim.^{tos} e deprecaçoens, pelo [~q] dos 3 modos da renovação da cid.^e baixa, o 1.^o arrazandoa toda e renovandoa toda, tenho por superior e melhor; o 2.^o de conservar as ruas largas, e alargar as estreitas mencionadas tenho por mediado; e o 3.^o de querer tambem accrescentar ao 2.^o a reducção dos becos e travessas a ruas largas tenho por infimo.

O abrir serventia descoberta e larga do terreiro do Paço p.^a a rua nova, em todos os tres casos he indispensavel; se for h[~u]a só, poderá sair ao meyo da rua nova; e se forem duas, poderã ser a 2.^a em frente da rua dos ourives do ouro. A rua nova do Almada sempre se deve adoçar, não só p.^a facilitar a subida do Bairro Alto, mas p.^a dar melhor saida ás aguas, onde se junta com a calcetaria e pé da calçada de S. Franc.^o e largo da Patriarcal. A calçada do Pedro de Novaes tambem está pedindo [~q] a facilitem, principiando este beneficio da rua e largo detras da Igr.^a de N. S.^a da Vitoria, travessa dos Espingardr.^{os} e calçadinha que sobe p.^a a Cruz do Carmo, fazendo-se logo calçada em tudo o [~q] se for entulhando, p.^a [~q] a agua da chuva não descomponha logo o entulho. Esta rua de Pedro de Novaes tambem necessita de se alargar por h[~u] lado e tambem a com[~q] se entra do largo da Victoria p.^a o [~q] se lhe segue em frente das cazas altas da congregação do Oratorio, dando por ella principio a melhora da d.^a calçada de Pedro de Novaes, como tambem necessita m.^{to} de alargada a [~q] fas serventia da rua das Flores p.^a a cruz de Catequefarás.

5.^o Para se reformar a cid.^e baixa na forma apontada no d.^o pr.^o modo dos 3, expressados nesta 2.^a p.^{te} (a [~q] me inclino) a pr.^a dilig.^a consiste em [~q], feitas as avaliaçoens de todas as propried.^{es} de casas [~q] se hão de derribar, cada h[~u]a de per si com o nome de proprietario, qualid.^{es} de suas obrigaçoens, ou sejão morgados, cap.^{as} ou foros, p.^a [~q] a compensação [~q] se der a cada proprietario, fique com as mesmas obrigaçoens primitivas; e sobre h[~u]a planta nova da cid.^e baixa com as ruas livrem.^{te} desenhadas, conservando porem as Igr.^{as} Paroquiaes, Ermidas e Conv.^{tos} e as extensoens das Freg.^{as} nas suas mesmas situaçoens o mais ajustado [~q] fôr possivel, se calcule q.^{tos} palmos superficiaes vão comprehendidos nas areas determinadas para serem occupadas de edificios; e sabido ao todo o valor de todas as casas derribadas, se reparta este pelo n.^o de palmos superficiaes comprehendidos nas d.^{as} areas, e desta repartição se conhecerá o valor que compete a cada palmo, e segundo o valor de cada edificio derribado se lhe commutará o tal valor com o n.^o de palmos superficiaes [~q] lhe competirem; com advertencia porem [~q] sempre se attenderá a qualidade dos sitios, recompensando o sitio de cada acredor com outro sitio semelhante: ao que fosse mais proximo ao mar, com sitio mais proximo ao mar, e ao [~q] fosse mais proximo ao rocio, com sitio m.^s proximo ao rocio; e assim aos mais acredores; e a todos se determinará tempo certo para darem principio ao edif.^o p.^a o terem tambem completo a tempo determinado, seg.^{do} os desenhos [~q] lhes forem communicados p.^{lo} Architecto de senado o Cap.^{am} Eugenio dos Santos e Carv.^o, p.^a que cada rua conserve a mesma simetria em portas, janellas e alturas; e pelo [~q] toca a cotas me parece sejão todas de dous pavim.^{tos} sobre as logeas; porem [~q] as paredes que dividem os edificios excedão a altura das paredes das frontarias pelo que se julgar bastante p.^a [~q] o fogo senão possa communicar de huns telhados a outros, como costuma suceder por não haver esta cautela, e não deixa de ser bem empregada a despeza [~q] demais se faz naquella porção de parede, pela defeza com[~q] cada edif.^o se prepara contra hum tal inimigo. Disse asima, p.^a que cada rua conserve a mesma simetria em portas e janellas e alturas, por[~q] me parecia melhor que cada rua ou cada Freg.^a tivesse alg[~u]a diversid.^e ao menos na côr da pintura do que por toda a cid.^e baixa inteiram.^{te} uniforme, até p.^a não ficarem tão distintas as outras p.^{tes} da Cid.^e que se conservarão na mesma forma em [~q] se achão, por[~q] tenho moralm.^{te} por impraticavel a renovação inteira de Lix.^a em todas as suas Freg.^{as}; mas esta minha imaginação não impede [~q] depois de vencida a reformação da cid.^e baixa, se possa com melhor segurança emprender o [~q] agora tanto se me difficulta.

6. E posto que se reprez.^{te} este projecto o mais expedito, e mais livre dos embaraços [~q] nos outros dous concorrem, e a ventagem de ser o [~q] depois de conseguido não padecerá a desgraça de arrependimentos por[~q] como vae acompanhado de todas as melhoras possiveis, não fica lugar a[~q] se lhe notem os defeitos [~q] nos outros se poderão notar. Resta ainda vencer o embaraço de[~q] como p.^a [~q] as casas conservem h[~u]a boa simetria, devem todas conservar entre si correspondencia, e será m.^{to} rara a occasião em[~q] o n.^o de palmos superficiaes ou areas [~q] corresponder pelo preço estimado a h[~u] acredor p.^{lo} edif.^o em haver diferença de mais ou de menos area; p.^a vencer esta dificuldade será precizo [~q] determinados na nova planta os novos edificios com a sua ajustada simetria se ponhão estes em venda, preferindo p.^a a compra os acredores com a condição que no caso [~q] a area [~q] cada h[~u] receber tiver mayor valor [~q] a[~q] deixou, entregue o excesso p.^a com elle se ir satisfazendo a outro credor que receber area de menor valor [~q] a que deixou, e nesta formalid.^e de entregarem os acredores em dinh.^o o excesso da area [~q] receberem de mayor preço do [~q] lhes competia ou recebendo em dinh.^o aquelle [~q] completar o valor da area que deixou no caso de não querer lançar mão de mayor area, se ajustará a compensação; e q.^{do} sobejarem areas que os credores não queirão comprar, se venderão aos [~q] não forem credores, p.^a os acredores receberem em dinh.^o o[~q] lhes pertencer; e se houver credores [~q] queirão comprar mais areas das [~q] lhes pertencerem, com esta extensão de compras poderá ser prejudicial a outros acredores [~q] quizerem tambem areas, e não dinh.^o; neste caso se suspenderá o d.^o excesso de compras, [~q] só lhes será permittido qd.^o faltarem acredores [~q] queirão antes dinh.^o do que areas.

7. E p.^a vencer o receyo de faltar q.^m queira comprar alg[~u]as areas, nem acredores recebelas pelas [~q] deixarão, me occorre responder [~q] como a todos os homens de neg.^o he m.^{to} conveniente terem as suas habitaçoens proximas aos Tribunaes de[~q] dependem, a principiar S. Mg.^{de} a renovação de Lx.^a como já apontei no § 15.^o da minha 1.^a parte, pelos edificios publicos, que são fabricados por conta da Real Fazenda quasi todos na Marinha, me faz persuadir [~q] com este atractivo procurarão todos os [~q] tiverem depend.^a dos taes tribunaes alcançar sitios e areas p.^a edificar, não reparando em dar por h[~u]a vez h[~u]a só quantia ainda [~q] grande em esperança de[~q] com o tempo recuperarão abundantem.^{te} nas habitaçoens proximas aos tribunaes, de[~q] quotidiam.^{te} dependem p.^a os seus interesses, e [~q] com h[~u] tal atractivo se facilitará m.^{to} a reedificação de Lix.^a baixa com as vantagens premeditadas no d.^o modo de a renovar, arrazando-a; mas emq.^{to} me conservo na esperança de [~q] possa ter effeito o projecto proposto com o atractivo dos Tribunaes publicos feitos, em 1.^o lugar me lembro de[~q] o Tribunal da Alfandega [~q] costuma occupar m.^{to} sitio, e diversas estaçoens, segundo a variedad.^e de fazendas [~q] nellas se despachão, se podia reduzir a h[~u]a summa abreviatura á imitação da Inglaterra, em[~q] as fazendas despachadas ainda dentro dos navios, vão dalli p.^a casa de seus donos, determinando-se caes próprios p.^a o dezembarque e conferencia dos despachos, evitando o trabalho dobrado de as levar primeiro a Alfandega, e os perigos [~q] alg[~u]as vezes na mesma Alfandega experimentão de agua, fogo e roubos; e não posso persuadirme [~q] os Inglezes cuidão menos no interesse dos dir.^{tos} reaes, [~q] os Portugueses; e como a casa da Alfandega se acha tão arruinada parecia boa occasião de mudar de estilo, poupando tempo e dinh.^o que na sua creação se ha de gastar.

8. Atéqui me tenho aplicado a individuar a renovação da cid.^e baixa, e como na supposição em [~q] procedo de S. Mag.^e lançar mão do sitio de S. João dos Bemcasados e o convento de N. Sr.^a da Estrella, toda a Freg.^a de S. Isabel fica inclusa na cid.^e e Corte de Lx.^a em[~q] se vae edificando sem ordem nem simetria, o[~q] já no tempo do Sr. Rey Dom João V se havia principiado a fazer, sobre o que fiz h[~u]a representação ao mesmo Rey e Sr., p.^a [~q] quizesse ser servido ordenar ao senado da Camara désse forma á innovacão das ruas [~q] se hião aumentando nos suburbios determinandolhes as larguras [~q] havião de ter assim as principaes como as travessas, determinando p.^a estas 25 palmos ao menos, e p.^a as ruas principaes a largura da rua dos Ourives de Ouro e de Prata. Determinando tambem lugares mayores p.^a praças e mercados; e foi o mesmo Rey e Sr. servido ordenalo assim per seu Real Decreto [~q] ficou registado na Secretr.^a de Estado, e no cartorio do d.^o Senado não pode tambem deixar de estar registado; e não posso nomear o dia nem o anno, por[~q] não tenho hoje memorias de[~q] me valer, e agora no prez.^{te} tempo em[~q] vão crescendo tanto os edif.^{os} sem regulam.^{to} algum, me parece ainda mais necessario regulam.^{to} mais ajustado, [~q] bem entendido deve ser, [~q] o senado, com o seu Arquitecto e Mestres, vá demarcar e balizar os comprimentos e larguras das ruas [~q] se vão acrecentando á cid.^e antiga, e ao mesmo tempo formando a planta das ruas novas, por[~q] deste balizam.^{to} depende a boa ordem que as ruas novas podem observar ficando as plantas servindo p.^a tirar alg[~u]as duvidas [~q] depois das demarcações podem sobrevir. Advertindo [~q] p.^a esta innovação de ruas he mais proprio o balizam.^{to} e demarcação sobre o terreno a[~q] se deve seguir a planta p.^a memoria, do[~q] fazer pr.^o a planta ideada p.^a a demarcação do terreno.

9. E por[~q] depois de determinadas as ruas e praças he conveniente [~q] os edif.^{os} observassem simetria na altura das casas, forma das janellas e portas, seria tamb[~e] justo [~q] o mesmo Arquitecto do senado, assim como ha de dar desenhos para a renovação da cid.^e baixa arruinada, os dê tamb[~e] p.^a esta p.^{te} [~q] de novo se edifica.

10. Tambem se me faz preciso advertir [~q] se devem aclarar os limites da fortificação de Lix.^a p.^a [~q] os novos fabricadores de edificios não vão occupando terreno prohibido, cuja incumbencia poderá ter o sarg.^{to} mor Filippe Rodrigues de Olivr.^a acompanhado do Vedor Geral das Fortificaçoens, e de seu escrivão, assim por[~q] já a andou observando na averiguação das fazendas [~q] p.^a a d.^a fortificação foram compradas, como tambem por ter sido privilegiado do fogo [~q] lhe não roubou os seus papeis, entre os quaes conserva o da d.^a fortificação; e p.^a esta diligencia ser completa se porão balizas firmes nos lugares prohibidos, assim dentro, como fora da fortificação, que determinem os lugares exceptuados p.^a se não fazerem nellas obra alg[~u]a de pedr.^o, e alg[~u]a [~q] houver já de carpintr.^o não possa ter posse de conservação, com a obrigação feita na Vedoria p.^a a derribarem todas as vezes [~q] for ordenado, sem se poder requerer satisfação alg[~u]a, antes pagarão na mesma Vedoria, [~q] o he tambem da Fortificação, o[~q] este lhe ordenar em reconhecimen.^{to} de vassalagem. E ao Marquez Estribr.^o mor Gov.^{or} das Armas da Provincia da Extremadura e Corte, como Superintendente das Fortificaçoens me parece pertencer mandar executar esta dilig.^a ordenando-lhe assim S. Mag.^e.

11. E he q.^{to} me occorre dizer nesta 2.^a p.^{te} reservando p.^a a 3.^a o [~q] depende de planta, p.^a cuja execução me tenho achado m.^{to} falto de preparativos e comodid.^e por[~q] a destruição experimentada que penetrou os lugares ainda mais reservados, como se fosse enviada p.^a destruir q.^{to} pudesse ter algum uso aos viv.^{tes} que restarão, ficando por este modo extinctos nos seus exercicios, ainda [~q] vivos p.^a se lembrarem do [~q] perderão, tambem fez caso de mim p.^a mostrar [~q] lhe não escapou cousa alg[~u]a, por diminuta que fosse. A mat.^a [~q] se trata, ainda [~q] não seja tão nova que deixe de ter havido outras semelh.^{tes}, he comtudo necess.^o ponderarlhes as differenças das occasioens em que se fizerão, por[~q] nem em Londres, nem em Turim se achavão os povos flagelados como os de Portugal quando se reformarão aquellas cortes, e vae m.^{ta} diferença de obras em tempo mais ou menos calamitozo p.^a ser mais ou menos facilitada a execução. P.^a esta se conseguir sempre será h[~u] grande adjutorio a saude bem conservada: as aguas corruptas, e sem movim.^{to}, assim na rua nova dos ferros como no Rocio, sem despejo, não deixão de correrem perigo de corromper o ar; he ponto pertencente ao Tribunal da Saude e do Senado da Camara, [~q] o governa, e entendo senão deve desprezar sem ofensa do bom regimen. Lix.^a 16 de Fevr.^o de 1756[17].

*Terceira parte da Dissertação sobre a renovação de Lisboa Lisboa[18]*

§ 1.^o No § ultimo da segunda parte da Dissertação sobre a renovação de Lisboa, prometi esta terceira muy dependente de plantas, e desenhos que não posso executar como costumava fazer, sendome preciso valerme de outras pessoas sem ser em minha prezença por falta de commodo que ainda me não tem sido possivel conseguir, consequencia dos fatalissimos flagelos [~q] se tem manifestado á nossa admiração: Valendo me porem dos officiaes Engenheiros e Praticantes da Academia Militar, de que me pareceo fazer eleição, e communicandolhes a planta da parte baixa de Lisboa destruida que só me escapou da voracidade por se achar fora da minha mão, lhes expliquey a mudança que pretendia mostrar por plantas novas em que se podesse fazer conceito dos remedios premeditados, intimando ao Ajudante Pedro Gualter da Fonceca, acompanhado do Praticante Francisco Pinheiro da Cunha, tomasse por sua conta expressar em huma planta sobre a representação da parte baixa de Lisboa destruida, a emmenda das ruas estreitas, de mais uzo, e algum melhoramento nas largas, para que se se quizer lançar mão d'esta emmenda proposta no principio do § 4.^o da segunda parte, se antevisse a melhora que se conseguia: e que tambem sobre os becos miudos apontace novas ruas, para que se podesse sobre ellas observar se seria escuzado aquelle melhoramento, ou inevitavel, conservando nos seus proprios sitios os Templos, Ermidas e Freguezias com o seu terreno competente; e mudando a largura do terreiro do Paço em comprimento, extendendo-se para a parte do mar the emparelhar com o comprimento[19] da ponte da Caza da India, ficando sendo[20] a sua largura desde o Forte the á face do poente da Alfandega do Tabbaco, e formando a caza da bolça dos homens de negocio entre a dita Alfandega e o arco do Assougue, separada por duas ruas, huma da parte da mesma Alfandega, e outra da parte do mesmo Assougue para darem serventia para a praça restante, entre a dita bolça e Caza dos Contos, que servirá para os uzos [~q] costumava servir, mas sem inficionar a praça principal, derribando-se o baluarte, e sua cortina, e fazendo-se no extremo do comprimento desta nova praça escadas para dezembarcar em toda a maré sem necessidade de pranchas, e dando-se commodo para a Vedoria e Academia Militar entre a ponte da Caza da India, e o Forte, o [~q] vay representado na planta n.^o 1.

2.^o Ao capitão Elias Sebastião Pope acompanhado de seu filho o Praticante Joze Domingos Pope entreguey outra planta da parte baixa de Lisboa destruida intimando-lhe outra (planta da) renovação (para o mesmo fim)[21], com a differença porem [~q] não tratasse de melhorar ruas estreitas, nem aproveitar-se das largas inteiramente, mas que com a liberdade [~q] julgasse apropriada formasse huma nova planta com as mais condições apontadas na primeira intimação: O que apprezento executado na planta n.^o 2.

3.^o Ao Capitão Eugenio dos Santos de Carvalho, acompanhado do Ajudante Antonio Carlos Andreas, entreguey outra planta da parte de Lisboa baixa destruida, para que sobre o terreno que occupara formasse outra nova planta com toda a liberdade inteiramente, e sem sogeição nem preceito algum mais que a conservação dos Templos, Ermidas e Freguezias: o que vay executado na planta n.^o 3. Recommendando geralmente a todos tres formassem algumas praças em lugares convenientes[22] para [~q] nestes vazios tivesse o ar commodos em que produzisse os seus bons effeitos.

4.^o E porque entre os tres pensamentos propostos se achão diversidades que poderão ser mais ou menos agradaveis, e o meu intento he somente apontalos, não duvidando [~q] (ainda sobre os três modos propostos)[23] se possão sinalar outros melhores, para o que poderão servir de grande[24] adjutorio estas tres reprezentações, porque á vista das diversas configurações de hum objecto, he [~q] milhor se pode observar a sua propriedade, ou impropriedade, aproveitando-me do mesmo soccorro, noto na planta n.^o 3.^o que o terreiro do Paço nella desenhado excede quanto a mim a grandeza de praça; mas [~q] o molhe [~q] forma na Alfandega para que os barcos carregados e nelle recolhidos possão com toda a commodidade descarregar dentro da mesma Alfandega, sem adjutorio da ponte, me parece muito bem advertido.

5.^o Suppondo (porem) que se acceita algum dos planos propostos, resta ainda depois de demarcados os sitios edificandos, e determinada a commutação dos destruidos, escolher com antecedencia o modo com que se devem preservar as ruas livres dos embaraços que as fazem immundas, fazendo elleição do mais apropriado para este fim; e porque sobre o ordinario de que se custuma uzar, [~q] consiste em serem conduzidas pellos carretães[25] em cargas de bestas todas as superfluidades [~q] se lanção das janelas, ha somente tres [~q] podem concorrer para a elleição, declaro que o primeiro (de que se tem uzado alguns paizes)[26] consiste em que, fabricadas pello meyo das ruas (principaes)[27] cloacas com capacidade para receberem as agoas e (todas as)[28] superfluidades dos edificios, sayão destes os conductos subterraneos pellos quais os edificios se aliviem nas cloacas: alguns conductos destes se fizerão em Conventos e edificios particulares d'esta Cidade, e se introduzirão nos canos reais, mas tem sido em pouco numero; advertindo que os canos reais [~q] são as cloacas antigas de Lisboa, pella mayor parte se não achão capazes de bom serviço por estarem muito corruptos e pella mudança das ruas, que provavelmente se seguirá, poderá ser preciso haver mudança nas suas situações[29].

6.^o Consiste o segundo em reconhecer que em algumas partes se uza de carretas que vezitando de manhã as ruas, e recolhendo os lixos e superfluidades solidas, as alivião, e defendem do mayor embaraço, ficando só sogeitas ás agoas [~q] com facilidade se dicipão.

7.^o Consiste o terceiro em deixar livre entre cada duas ruas, e as duas ordens de edificios [~q] as formão por h[~u]a de suas partes huma rua estreita de sinco ou seis palmos que chamão, alfugere, sem que hajão para ella portas, mas só janelas de que se lancem nella as tais superfluidades, que no Outono costumão ser extrahidas pellos carretões, para serem lançadas em lugares determinados; e em algumas partes desta Cidade, se achavão as tais alfugeres, posto que com o inconveniente de inficionarem o olfato dos moradores daquellas cazas a que ficão contiguas, [~q] necessitão de vidraças para moderarem aquelle inconveniente, ou custumarem-se a sofrello; pello que dos quatro modos referidos, sempre o do conductor subterraneo para as cloacas me parece o milhor onde as houver: o dos carros, ou carretas, havendo a quantidade sufficiente, estimo em segundo lugar; e em terceiro, o commum e uzados carretães, e ultimamente o das Alfugeres, [~q] alem do seu perpetuo inconveniente, deminuem o terreno dos edificios. A consideração porem da diversidade das despezas, poderá alterar muito este meu parecer, que sempre como tudo o mais deixo pendente da melhor ponderação.

8.^o A esta consideração de conservar as ruas de Lisboa livres dos embaraços que as fazem immundas, para o que concorrerá muito a mayor largura das ruas, e a menor altura dos edificios, não excedendo de dous pavimentos sobre as loges, se segue necessariamente outra não menos importante, e consiste em determinar melhor lugar em que possão os tais embaraços ser lançados com menores inconvenientes; e por que me occorre hum mais livre delles do que os já observados, e promete huma grande conveniencia ao bem publico, sejame licito prezentalo neste lugar. Consiste elle em [~q] os tais embaraços se vão lançar dentro do Rio de Sacavem, para que com este adjutorio se chegue a formar nelle hum valle á imitação do de Cheias, em que as agoas salgadas chegavão em algum tempo ao templo das Virgens Vestaes, hoje Convento de relligiozas de Sancto Agostinho; por [~q] se este pequeno Valle soccorre tão agradavelmente a Corte com as suas hortaliças e frutas, quanto melhor o fará o Valle de Sacavem com a sua muitas vezes mayor grandeza, e sem se poder dizer que os embaraços ali lançados podem cauzar algum impedimento na barra, como se pode temer de qualquer dos outros modos em que se não lanção em terra: pode esta consideração ter contra si o embaraço do refugio das embarcações no tempo em que se recolhem a buscalo; mas a isso se pode responder [~q] nem as embarcações necessitão de todo o esteyo de Sacavem para se refugiarem, nem seria justo [~q] inteiramente se lhe impedice o refugio, mas que só se formasse em Valle aquillo que lho não impedice [~q] sempre será de grandeza muy proveitoza.

9.^o Tambem parece precizo attenderse com antecedencia aos conductos da agoa para as fontes de que he muito justo se milhore esta cidade baixa destruida, para alimento dos povos para extincção dos incendios, e para adorno das praças: no terreiro do Paço pode servir a agoa [~q] vem das Cruzes da Sé: na praça do Rocio, pode o seu chafariz receber mayor agoa, e mais segura do bairro alto, ficando a que de prezente lança ao Desterro de donde traz a sua origem, onde tambem he necessaria para acodir ao muito povo que naquella circumvezinhança tem crescido: O Hospital Real de todos os Santos pellos seus grandes privilegios se faz acredor de toda a agoa [~q] lhe é necessaria: O largo da Victoria está pedindo com muita razão ao bairro alto hum soccorro de agoa: o bairro de S. José o imita com a mesma justiça, por que ali a virão buscar do Campo do curral onde não ha a sufficiente: e estes lugares da Cidade baixa que tenho apontado, são os inexcuzaveis deste soccorro, porque se fosse possivel [~q] em cada rua houvesse huma fonte, ou cada caza tivesse huma chave de agoa, nunca se poderia chamar superfluo este melhoramento: mas pois que o não pode ser em todo, para [~q] ao menos o possa ser em parte, se devia fazer alguma deligencia, para se convocarem, e ajuntarem mais agoas, pois para isso forão formados dous encanamentos no Acqueducto [~q] conduz a agoa para o bairro alto, no que se não tem posto thé o prezente aquella applicação [~q] a materia merece, e com que se poderão conseguir, segundo os apontamentos que para esse fim forão feitos, [~q] posto o fogo os consumice todos, ainda se acharão alguns vestigios na idêa.

10.^a E porque a agoa sem instromentos com [~q] se applique he como espada sem braço, e as bombas o custumão ser, devem estas acharse repartidas em lugares convenientes, e ao menos h[~u]a em cada freguezia, e junto da mesma Igreja para o que se determinará edificio particular de que poderá ter a chave o andador da Irmandade do Santissimo Sacramento, por se achar ordinariamente assistindo na Igreja, ou perto della: Os baldes de couro em bom numero são inseparaveis das bombas, para com promptidão e segurança ajudarem neste conflicto: cuja repozição deve ser muito observada por meyo de alguma horroroza penna contra quem tiver o desacordo de os não repor em seu lugar, achandose em qualquer mão fóra delle.

11.^a Não posso deixar de acrescentar aqui ser muito preciza huma especial attenção na elleição das pessoas que hajão de ter por sua conta a execução desta difficultosa obra da renovação de Lisbôa baixa, para a guiarem livre dos embaraços [~q] se poderão encontrar, ou incluir entre a correspondencia do antigo com o moderno, no cazo de haver alguma commutação do velho, com o novo que he aonde consiste a mayor difficuldade; para cuja solução não julgo inteiramente sufficientes os adjutorios das plantas, e se faz muito precizo que se vão observando no terreno com todo o genero de precauções [~q] a materia merece; por que sendo certo [~q] se não uza de petipé nos planos das cidades antigas tão irregulares como custumão todas ser, não se pode uzar delles como de hum plano regular de hum Convento ou de hum Palacio: E ainda [~q] a nossa planta de Lisbôa antiga se avantage em se lhe ter assignado petipé, nem por isso se deve caminhar por ella, sem ser como com huma continuada sonda reta por cauza da dita commutação; porque o formar huma Cidade de novo sem attencão mais que a ella propria, unindoa a outra antiga como em Turim, será mais divertimento que trabalho; para esta execução me persuado estarem em primeiro lugar o Tenente Coronel Carlos Mardel e o Capitão Eugenio dos Santos de Carvalho, porque álem de serem Engenheiros de profição, são tambem na Architectura Civil os primeiros Architectos.

12.^a E como athé o prezente se não sabe o modo de commutação [~q] se uzará com os donos das cazas destruidas, e a conjectura [~q] eu fazia era na suppozição de que na deligencia [~q] em forma de tombo se executava pellos bairros, se incluia a avaliação dos edificios, o que com effeito não he assim, mas só consiste na medição das areas, e algumas clarezas [~q] não comprehendem a avaliação, me vejo obrigado a entender que, ou esta avaliação se fará separadamente por segunda deligencia, prezentes os mesmos edificios ou não prezentes, ou que se não quer uzar mais que de medições das Areas, para serem commutadas por areas; porque como na renovação da Cidade baixa por ruas largas, se mudão totalmente os sitios dos edificios que não são mandados avaliar, parece poder ser o intento da commutação por Areas correspondentes, assim aos sitios mais ou menos proximos do mar, como á grandeza mayor ou menor, correspondente á do edificio destruido; mas como se não pode entender [~q] por cauza da mayor largura das ruas restem areas para suprir as dos edificios destruidos, segue-se deste conhecimento que commutando-se as areas com igualdade, hão de faltar areas para completar as de muitos edificios antigos, que ou se hão de suprir com areas em outros sitios novamente determinados, ou em dinheiro no cazo dos donos dos tais edificios se não conformarem com a tal commutação. Se porem se julgar licito que se faça huma commutação de areas proporcionada de outro modo, isto he, sabendo ao todo a area de todos os edificios destruidos, e sabendo tambem ao todo a area dos terrenos edificandos, e observando a proporção entre estas duas areas totais; e fazendo sobre ella, e á sua imitação, a commutação das areas particulares, não seria necessario suplemento de areas, e ficarião todos com areas correspondentes, ainda que menores das que tinhão; no que serião mais intereçados os das ruas estreitas extinctas pellas vantagens das ruas largas; e no cazo de não servir de obstaculo esta diversidade para se fazer a compensação, resta ainda averiguar como se há de suprir o mais ou menos de area que a alguns acredores faltar, ou crescer para bem edificar; o que já no § 6.^o da segunda parte desta dissertação supriamos por meyo das avaliações que suppunha se fazião: mas como já reconheço se não tem feito, e [~q] sem ellas me não occorre suplemento para os tais cazos, parece [~q] para elles são as avaliações inevitaveis se se houver de abraçar o dito modo de compensação; e no cazo de se fazerem seria bom que fosse prezentes os edificios e renovadas as medições, para se fazer correcção em algumas de que tenho noticia necessitão della, pois nem sempre as principaes pessoas as prezenciavão.

13.^o O Sennado de Lisboa que já cultivou esta materia nas ruas dos ourives da prata, e do ouro, e dos douradores, não achou melhor meyo [~q] tomar a si as cazas avaliadas que queria emmendar, e fazendo a obra á sua custa, vendel-as a quem mais déce, para satisfazer aos credores; e poderá ser [~q] avaliados os edificios destruidos de huma freguezia, e formados os edificios novos da mesma, e postos depois em venda, possa o seu producto satisfazer assim o valor dos edificios destruidos, como a obra dos edificios novos: e como a Cidade baixa destruida, se não pode reedificar toda ao mesmo tempo, parecia justo que a experiencia se fizesse em huma de suas partes, que poderia ser em parte da freguezia de S. Julião no sitio incluzo entre a rua dos ourives do ouro e a rua nova do Almada, por haver nelle muitos beccos e ruas estreitas [~q] he onde pode haver a mayor duvida—, advertindo parecer conveniente que o Sennado determinace os arruamentos, para que segundo elles se formassem logo os edificios com os commodos proporcionados.

14.^a As duas renovações mais celebres das Cortes da Europa, tem sido a de Londres, e a de Turim; e dezejando eu saber o como se procedêo com os particulares na sua execução, sem ter Livro de que me valer, nem Bibliotheca publica [~q] nunca mais preciza me pareceo que na prezente occazião, nem occazião mais propria para se lhe dar principio que esta, ainda [~q] não seja logo tam numeroza como hoje são as mayores [~q] não principiarão tão grandes, me achey obrigado a mendigar huma historia de Inglaterra que incluice o anno de 1666 em [~q] não consegui noticia de proveito; e vendo no Diccionario Geografico de Martiniere a descripção de Londres, em que lhe delinea as ruas como as nossas da Villa de Thomar, tambem não achey nelle clareza de que me service; o que poderia conseguir se tivesse mais [~q] revolver. A renovação da Corte de Turim, não he como alguns dizem, [~q] fora arrazando Turim Velho, para fazer Turim novo, porque só foi acrescentar Turim novo a Turim velho, fazendo em hum sitio plano contiguo a Turim, hum aditamento a Turim, no que não havia difficuldade que vencer; donde venho a concluir [~q] a renovação de Lisbôa destruida tem muito mais que ponderar que o augmento da de Turim acrescentada.

O que resta ainda determinar he se as ruas mais principais se devem dividir em tres partes como as de Inglaterra; e se se hão de fazer porticos, ou columnatas em algumas ruas como havia na rua nova dos ferros, e na Confeitaria: sobre o que me parece dizer [~q] nas obras do terreiro do Paço as columnatas sejão de bom uzo, e bom adorno, mas que nas ruas de logeas me parece mais conveniente que não haja columnatas e que as antigas da rua nova dos ferros servirão aos homens de negocio por falta do edificio da bolça, [~q] fazendo-se no terreiro do Paço como espero, he escuzado suplemento em outra parte; declaro [~q] as ruas de Inglaterra são formadas de trez divizões, a do meyo mais larga para as carruagens, e as duas dos lados para a gente de pé; aquella calçada de pedra miuda, e as duas de enchelharias groças com seus postes que as separão da do meyo, para que as carroagens não vão embaraçar os dous passeyos; as principais são de larguras excessivas, o que nós poderiamos suprir com quarenta e cinco ou cincoenta palmos de largo, dando dez palmos a cada hum dos dous passeyos, ficando o resto no meyo para uzo das carroagens: mas não me inclino a esta divizão de ruas, porque nas occaziões de festas, e de concurços, se não poderão concervar bem em seu estado proprio, não sendo de huma largura muito mayor, o que no grande comprimento de algumas ruas de Inglaterra se faz mais adequado, e na nossa Cidade de Lisbôa baixa destruida consumirá muito terreno, em prejuizo dos donos dos edificios que obrigados a não levantar mais [~q] dous pavimentos sobre as logeas, clamarão contra a maior largura das ruas do que as tres divizões serão cauza.

Na planta n.^o 4.^o apresento mais huma renovação da cidade baixa arruinada expressada pello Ajudante Pedro Gualter da Foncêca com toda a liberdade possivel, sem attender á conservação dos sitios das Igrejas Parroquiais para no cazo de não servir de embaraço a tal mudança possa tambem entrar na conta dos pensamentos ponderados.

15.^a Em 5.^o lugar offereço a planta de huma rua de 60 palmos de largo á imitação de algumas da de Londres dividida em tres partes, a do meyo de 40 palmos de largo para carruagens, e gente de cavalo, e as duas dos lados de dez palmos de largo cada huma para a gente de pé e Cadeirinhas, com a separação de pilares e pavimento que o profil mostra, e no mesmo profil a figura da Cloaca, ou Cano Real para serventia das agoas dos montes e limpeza dos conductos, que dos edificios se lhe introduzem.

16.^a Em 6.^o lugar offereço o primeiro prospecto em que se mostra a altura e simmetria dos edificios com dous pavimentos sobre as logeas com janelas rasgadas no primeiro, e com janelas de peitoris no segundo, e divizões de paredes altas sobre os telhados para deffensa da communicacão dos incendios.

17.^a Em 7.^o lugar offereço o segundo prospecto, em que se mostra a altura, e simmetria dos edificios com dous pavimentos sobre as logeas, ambos de janelas rasgadas, e com divizões de paredes altas para diffensa da communicação dos incendios.

18.^a Em 8.^o lugar offereço o 3.^o prospecto, em que se mostra a altura, e simmetria dos edificios, com seus porticos, ou columnatas, contra as inclemencias do tempo com dous pavimentos sobre as logeas, e ambos de janelas rasgadas, e divizões de paredes altas sobre os telhados para impedimento dos incendios.

19.^a Em 9.^o e ultimo lugar offereço huma forma de edificio mais nobre para o Terreiro do Paço com seus porticos com mezaninos contra as inclemencias do tempo, dous pavimentos de janelas rasgadas (dos quais hum se poderá abater parecendo grande a altura) e outro pavimento de mezaninos junto aos telhados; e divizões de paredes altas para deffensa da communicação dos incendios; e todas estas sinco ultimas reprezentações são expressadas pello Capitão Eugenio dos Santos e Carvalho.

E he quanto me foi possivel unir nesta 3.^a parte, guardando o restante para a quarta. Lx.^a 31 de março de 1756.

*Additamento*

Em decimo lugar offereço a planta n.^o 5 p.^a a renovação da cidade de Lisboa baixa arruinada sem attenção á conservação de sitios de templos ideada pello Cap.^m Eugenio dos Santos e Carvalho na qual a cor amarela mostra o que se fará de novo, e o vermelho o que se conserva do antigo.

Em undecimo lugar offereço a planta n.^o 6.^o p.^a a renovação de Lisbôa baixa arruinada sem attender á conservação dos sitios antigos, ideada pelo Capitão Elias Sebastião Pope. Lx.^a 19 de abril de 1756.— Manuel da Maya [30].

* * * * *

Basta este trabalho para mostrar a competencia e autoridade de Manuel da Maya como um verdadeiro engenheiro, na mais ampla accepção d'esta palavra, e com as mais largas vistas sobre os complexos assuntos que se prendem com a sua profissão e nella exigem os conhecimentos mais profundos sobre as necessidades capitaes da organização social. Não admira por isso que o seu nome cresça no respeito dos vindouros, como fôra respeitado e querido pelos seus contemporaneos.

Do conceito e estima em que era tido pela gente do seu tempo, reza por exemplo o seguinte trecho do 14.^o volume do Theatro de Manuel de Figueiredo, repositorio importante de informações e noticias com que entramos no conhecimento do meio português no seculo XVIII, por uma forma por vezes pittoresca e palpitante:

«Ó virtuoso, constante e distincto Português Manuel da Maya! Quanto não soffrerias para nos deixar aquelle incomportavel thesouro, que hoje desfrutamos! (e até os mesmos Gallegos) fallo do manancial das Agoas-Livres, obra de principios tão solidos e plano tão exacto, imaginada e conhecida por ti; aquella abundancia que tanto tem concorrido para a sustentação da extensa cidade de Lisboa: á tua sabedoria e ao teu genio se deve este bem! Não empregaste as mathematicas nos utilissimos fins de nos matarmos huns aos outros com mais presteza, mas sim em evitar o morrermos á sêde. Nunca ouvi gabar estes teus cuidados e lembrança original; custou-me a saber quem teria sido a origem deste tão grande bem, que nos deixaste. Ó grande Patriota Manuel da Maya! O ceu te remunere as tuas grandes virtudes quanto utilizou nellas o teu grande Discipulo! Que originaes lhe não deixaste impressos no coração e no entendimento! Aonde tiveste a satisfação de presencear o quanto forão respeitadas pela Providencia aquellas obras no grande abalo terrestre de 1 de novembro de 1755[31]».

Da consideração em que os planos de Manuel da Maya foram tidos nas regiões officiaes, diz o officio do Duque de Lafões que atraz deixámos publicado; mas aqui temos outro documento, este official, em que, poucos dias depois da data da terceira parte do relatorio do eminente engenheiro, o governo manda pôr em execução em grande parte as suas ideias:

Manoel da Maya M.^e de Campo Gn.^{al} e Engenhr.^o mor do R.^{no}. Em virtude de h[~u]a ordem de S. Mag.^e a mim dirigida e partecipada ao Ex.^{mo} S.^r Duq.^e Rej.^{or} ordeno ao Ten.^e Coronel Carlos Mardel e aos Cap.^{es} Eugenio dos Santos, Elias Seb.^{am} Pope acompanhado do Ajud.^e Ant.^o Carlos Andrey, e do Prat.^e José Dom.^{es} Pope tomem por sua conta fazer, delinear, demarcar e balisar o terreno [~q] jas entre os terrenos de Lisboa edificada e o lineam.^o de sua Fortef.^{am} principiando a delig.^a desde a porta do carro da casa professa de S. Roque, continuando por defronte de S. P.^o de Alcantara, Noviciado da Cotovia, toda estrada fronteira, a bica das aguas livres até Anjos ao Arco do Carvalhão tudo q.^{to} fica a p.^{te} direita. As ruas, praças, e mercados, [~q] no d.^o terreno se poderem em boa forma distribuir, assim p.^a o bom uso e comodid.^e do publico como p.^a enobrecer a d.^a Cid.^e com este augm.^{to} da melhor eleição, reduzindo ao mesmo tempo em planta o [~q] se for demarcando debaixo do petipé que vay sinalado a margem p.^a se ajustar com a da renovação de Lisboa baixa arruinada, empregandose nas ruas mais principaes, e de mayor comprim.^o a largura de 60 palmos, e nas menos principaes de 40 p.^{mos} e nas travessas de 30, não servindo de embaraço ao tal balizam.^o e demarcação muros de quintas, nem valados de faz.^{as}, desenhando tambem prospectos de casas de dous pavim.^{os} sobre as lojas, o 1.^o com janellas rasgadas, o 2.^o com peitoris, ou ….. diversificando as ruas pelas cores em [~q] as portas e janelas serão pintadas: Para as casas nobres se formarão prospectos de diversos portados com mais n.^o de janelas mas não de mayores alturas, por não alterar a principal regularid.^e. As paredes [~q] dividirem os edificios excederão a altura das paredes das frontarias pelo [~q] se julgar bast.^e para [~q] o fogo se não comunique de hum telhado p.^a outros: As ruas mais principaes [~q] recebem as aguas dos montes, ou das fontes devem conter cloacas por onde possa andar hum cav.^o digo h[~u] homem a cav.^o, com os quaes edificios hão de ter comunicação por seus aqueductos, o [~q] será representado em h[~u]m perfil das mesmas cloacas, pois he o modo de melhor preservação p.^a [~q] os edificios se aproveitem delle com anteced.^a q.^{do} as cloacas se formão, de [~q] tudo se fará impressão p.^a se distribuir, e comunicar aos interessados para [~q] se execute este projecto com a promptidão q. S. Mag.^e ordena. O d.^o Ten.^e Cor.^{el} avisará as pessoas nesta ordem mencionadas p.^a lhes comunicar em certo dia a ordem, como he costume, e pelo [~q] toca ás despesas [~q] neste projecto se farão, o d.^o Ten.^{te} Cor.^{el} com o rol [~q] apresentar ao d.^o Ill.^{mo} e Ex.^{mo} Snr. Duque Reg.^{or} alcançará promptam.^e o desp.^o p.^a a satisfação da import.^a—Lisboa 9 de abril de 1756»[32].

* * * * *

Á amabilidade do digno par do reino Sr. Francisco Simões Margiochi devemos o ter conhecimento de uma preciosa collecção de manuscritos referentes a Manuel da Maya, reunidos por seu pae, uns da letra do grande engenheiro, outros, documentos officiaes a seu respeito, d'onde tiraremos desde já algumas informações, guardando a publicação d'esses documentos para outro logar, principalmente para quando noutro logar nos occuparmos da biographia do reedificador de Lisboa.

No seu testamento datado de 27 de junho de 1764 diz Manuel da Maya:—«Declaro que sou natural d'esta cidade de Lisboa, baptisado na freguesia de Sam Julião em cinco de Agosto de mil seis centos settenta e sette, sendo meu Padrinho o muito Reverendo Padre Pedro de Vargas capellão da Capella Real do Senhor Rey Dom Pedro o segundo, filho legitimo de Francisco da Maya e de sua segunda mulher Paula de Almeyda, recebidos na freguezia de Santiago da Villa de Almada, de donde passarão para a freguesia de São Julião desta corte, onde viverão até o fim de sua vida e forão enterrados no convento de São Francisco da mesma Corte, em cuja Religião erão terceiros. Não fui casado e não tenho herdeiro algum forçado ascendente ou descendente, e se houver alguem que proue lhe sou deuedor de alguma couza ordeno seja attendido como fôr justo. Nomeyo por meus testamenteiros em prim.^o lugar ao Reverendo Beneficiado da Santa Igreja Patriarchal Pedro do Valle Maya, em segundo lugar a seu (?) tio Theodoro da Silva Maya a quem rogo queyram por caridade e amor de Deus dar a execussão o que aqui determino. Será meu corpo leuado no esquife ou tumba da minha Veneravel Irmandade dos Clerigos pobres com o titulo de caridade e protecção da Santissima Trindade cita no hospital Real de todos os Santos e acompanhado pella mesma Veneravel Irmandade (á qual?) offereço dez moedas de ouro como já offereci na minha entrada, e será sepultado no mesmo convento de Sam Pedro de Alcantara das Religiosas Arrabidas cuja communidade toda no dia seguinte dirá missas pela minha alma de corpo presente…»

Mais adeante diz:—«Declaro que o fogo que se seguiu ao terramoto do primeiro de Novembro de mil sete centos sincoenta e sinco me queimou o edificio em que morava na travessa do Salema, freguezia do Santissimo Sacramento desta corte e me destruhio quanto nelle tinha em que entravam todas as minhas memorias conseguidas em largos annos com documentos, plantas e instrumentos da minha principal profissam e da minha fabrica, e noticias procedidas de diversos empregos do Real Serviço assim diurnas como nocturnas, e que ao depois fiz algumas nouas dissertaçoens, discursos e reparos e principalmente pertencentes ao lugar de Enginheiro mor do Reyno e ao de Guarda mor da Torre do Tombo conducentes ao Real serviço e bem publico, dos quaes alguns tem sido por mim propostos ainda que nem todos attendidos e que os primeiros se acharão na minha casa de visitas e os segundos na casa em que tenho os liuros, e pesso ao Reverendo Beneficiado Pedro do Valle Maya meu testamenteiro primeiro que com os dous destes Reverendissimos Padres Frey Antonio de Santa Anna e Frey Anastacio dos Santos os revejão e observem com attenção (pois que eu com a diminuição de potencias e sentidos e de mais de outenta e seis de idade me não acho em termos de o fazer), separando o que lhe parecerem util para se entregarem da minha parte aos meus dous successores que lhe darão a prouidencia que melhor lhes parecer…»

Na carta regia de 9 de dezembro de 1758 em que a Manuel da Maya se faz mercê de doze mil reis de tença annual, vem os seguintes dados biographicos:

«Faço saber aos que esta minha carta de Padrão virem que tendo respeito aos serviços de Manoel da Maya filho de Francisco da Maya natural desta cidade feitos pello espaço de vinte e hum annos quatro mezes e hum dia nos postos de Apontador das fortificaçoens, Ajudante de Ingeneiro, Capp.^{am}, Sargento Mayor, e no de coronel de Infantaria com o mesmo exercicio de Ingineiro desde vinte e sete de Mayo de seiscentos noventa e oito até vinte e sete de Mayo deste anno de mil setecentos e dezanove; no de mil setecentos e hum assistir ás obras da marinha e das batarias da banda de Alem, tomando as alturas e examinando os materiaes e fazer os riscos das plantas das ditas obras com muito acerto e ajudando em todas ellas ao Lente das fortificações, Francisco Pimentel, com o qual foy a Extremós para examinar o que faltava á fortificação da Praça; no de mil sete centos e quatro conduzir p.^a Abrantes hum Regimento de Olandezes, e despois voltar, tornar para a dita Villa á obra da fortificação fazendo a medição á planta do armazem e a informação doque convinha para a de Tancos na Campanha do ditto anno; acompanhar ao Conde Apozentador mor que foy aquartelar a munto alto e munto poderoso Rey Dom Pedro segundo de boa memoria, meu Rey e Senhor que Deus foy servido levar para sy, servindo de quartel Mestre da Corte; no de mil sette centos e sinco, ser mandado para Elvas, e sahindo no exercito assistir á obra de huns reductos que se fizerão a (?) da da Godianha para guarda da ponte das barcas, hindo muitas vezes vizitar os ataques e batarias por ordem do mesmo senhor; traduzir dous livros Francezes que tratão da fortificação, que forão recebidos com geral acceitação pello estillo e fé da tradução e pello seu bom prestimo e intelligencia ter sido muntas vezes occupado em varias diligencias do Real serv.^o e por ordem expecial fazer a planta de ambas as cidades de Lisboa, occidental e oriental, com toda a individuação de Praças, Palacios, Templos, Mosteiros, Freguezias, Irmidas, ruas e travessas com os nomes de todas estas couzas em tão boa forma e tão ajuizado ao Terreno que accreditou o seu estudo e trabalho de sinco annos…»

Por este documento se vê que Manuel da Maya entrou nos serviços da engenharia em 8 de setembro de 1737, como apontador; nelle vemos tambem as diversas datas das suas variadas occupações como engenheiro, tanto em tempo de paz como na guerra.

Os seus vencimentos em 1764 constam do seguinte decreto:

«A Junta da Caza e Estado de Bragança manda fazer novo assentamento a Manuel da Maya M.^e de Campo General de meus exercitos e guardamor da Torre do Tombo de hum conto duzentos oitenta e oito mil reis, que deve haver em cada h[~u] anno pelo Thesoureiro da mesma Caza, que são de sinco parcellas, que levava na folha d'ella, a saber quatrocentos e oito mil reis, que antecedentem.^{te} lhe erão concedidos de ordinaria sem abatimento de quatro e meyo por cento; duzentos mil reis de tença com o encargo de pagar quatro e meyo por cento; sento e sessenta mil reis de ordenado como chronista; cento e vinte mil reis para aluguer de casa, por aviso de 18 de Dezembro de 1754, e quatrocentos mil reis mais de ordinaria, que lhe mandei continuar por Alvará do d.^o dia 18 de Dezembro de 1754. Belem 30 de Julho de 1756. Rubrica del Rey N. S. —Reg.^{da} a fl. 56.»

Manoel da Maya foi nomeado mestre de campo general por carta patente de 24 de janeiro de 1758, e sargento mor de batalha pela carta patente de 12 de janeiro de 1760.

Entre os trabalhos que ao distincto engenheiro foram confiados, estão os do hospital das Caldas da Rainha. D'isso dá noticia esta carta que se conserva na propria lettra de Manuel da Maya.

Senhor

No anno de 1706 se entregarão no Tribunal da Meza da Consciencia que tem o governo do Hospital das Caldas da Raynha, quarenta mil cruzados em fazendas p.^a do seu producto se formar a convalecenca p.^a os doentes pobres, que se vão curar ao d.^o hospital, e com effeito chegou a haver dous mil cruzados de renda por anno produzidos da redução que se fez das taes fazendas; mas no anno de 1750 ultimo em que a Mag.^{de} Fidelissima S.^{or} Rey D. João Quinto quiz continuar aquelle remedio, senão achava fabricada a convalecença, o que o Mesmo Senhor determinou se executasse; e com esta firmeza principiei a mandar conduzir alguns materiaes p.^a a tal obra; e por q o dito Tribunal mandou ao seu Architecto fizesse planta p.^a a tal convalecença, e este a fizesse, e se formasse consulta pella Mesa da Conciencia, desta consulta se me deo vista p.^a eu responder o que me parecesse; e por[~q] achei [~q] se devia regeitar huma janela que se queria abrir em huma casa pertencente ao commodo das Religiosas, e o haver que nas janelas de tal convalecença se intentara fazer de mais despesa e feitio [~q] o da Frontaria do Hospital, o declarei assim na minha resposta declarando os inconvenientes que havia nas ditas duas couzas: e entendo [~q] esta consulta se acha detida na Secretaria do Estado, de que foi secretario Diogo Mendonça Corte Real, que hoje habita em Mazagão, na qual secretaria se pode procurar esta consulta p.^a se lhe dar a providencia necessaria, assim p.^a bem dos pobres convalecentes, como p.^a o d.^o Tribunal dar cumprimento a obra de que se encarregou. V. Mag.^{de} mandará o que for servido. Lisboa 2 de 9.^{bro} de 1761.

Manoel da Maya .

Autographo.

Importantes foram os serviços prestados por Manuel da Maya á Torre do Tombo como guarda-mor, não só no que respeita á ordenação e catalogação dos documentos, mas por occasião do terremoto de 1755 em que, em vez de acudir á sua casa, que deixou arder, procurou no que poude salvar os thesouros do Archivo.

Falleceu em 17 de setembro de 1768, e foi, conforme a sua vontade, sepultado na casa de capitulo do convento de S. Pedro de Alcantara. Passava dos noventa e um annos; e toda a vida manteve severamente um voto de castidade que fizera aos doze.

A sua exagerada devoção levou-o a ser denunciante do Santo Officio, o que nesse tempo era tido como virtude. Denunciou em 8 de julho de 1755 um allemão das relações do P.^e Cardone por transmudar o azongue em prata, reputando-o um illuminado, e denunciou um cunhado de Mangin, abridor de cunhos da Casa da Moeda, como mação[33].

Que ominosos tempos aquelles em que até os espiritos mais lucidos enfermavam d'estas aberrações moraes!

* * * * *

A titulo de curiosidade daremos noticia da oração congratulatoria que os engenheiros militares e assistentes da Torre do Tombo, e o «superior de uns e outros, Manoel da Maya», offereceram a El-Rei D. José I por haver escapado ao attentado contra elle havido, e foi recitada em S. Antonio de Lisboa pelo P.^e Fr. Manoel de Sam Boaventura, religioso carmelita descalço. Conserva-se inedita, e noutro lugar a publicaremos, por não ter cabimento neste estudo de natureza militar. Mas não resistimos a dar uma amostra na parte em que explica como especialmente a congratulação pertence aos engenheiros militares e aos empregados do Archivo:

«Todas as gerarquias de pessoas sam obrigadas a este gratulatorio obsequio; mas com muita especialidade pertence esta acçam de graças aos nobilissimos congressos dos Engenheiros militares, e ao dos guardas assistentes ao Archivo da Torre do Tombo. Unem se estas duas gerarchias em hua mesma potencia motrix, que os governa: e he identico em ambos estes nobilissimos congreços, a obrigação, e por isso he simultaneo o seu agradecimento que patenteão neste solemne Te-Deum Laudamus .

Occorre especial obrigação aos Engenheiros militares e aos assistentes do arquivo da torre do Tombo, por huma identica congruencia das suas proprias ocupaçoens. Aos Engenheiros militares pertence a fortificação das praças; assim como aos assistentes do arquivo a conservação das memorias q nelle se depositão: e como o arquivo em que melhor se guarda a memoria dos beneficios recebidos seja a acçam de graças, sendo como he este agradecimento huma fortaleza ou hum lugar bem disposto á recepção de mayores petrechos para a defensa, a quem pertence a delimitação d'esse lugar ou fortaleza? A quem se hade recommendar a guarda d'esta memoria tão importante? Não ha duvida que aos assistentes do arquivo, e aos Engenheiros militares do Reino. A estes pois he obrigatorio com especialidade o obsequio do Louvor, que dedicam á Majestade Divina; com este agradecimento desempenham dos seus officios. Uns, guardando no arquivo da gratidão a insistencia do beneficio; outros ampliando a praça, em que hade entrar multiplicidade de socorros Divinos. E assim será todo o meo empenho mostrar que as vozes do Te-Deum Laudamus que a Deus se offerecem, são huma maquina de ingenho militar, com que se agradecem ao mesmo Deos os beneficios feitos na pessoa do nosso Fidelissimo Rey, a todo o Reyno; maquina de industria tam artificioza, que he o arquivo em que melhor se conservão os padroens da recessão e continuação dos favores Divinos»[34].

Pode-se chamar a isto rhetorica engenheira!

Notas:

[1] Refere-se a Goethe, que tambem se impressionou com o terremoto, contando então seis annos.

[2] Reinaldo Manoel de Sousa.

[3] Recordações de Jacome Ratton. § 65.

[4] Em alguns documentos Eugenio dos Santos de Carvalho.

[5] Deste ponto, entre outros muito interessantes, tratou o nosso estimavel camarada, capitão de engenharia, Francisco Luis Pereira de Sousa numa conferencia que realizou na Associação dos Engenheiros Civis, e que está imprimindo, tendo tido a extrema amabilidade de nos mostrar as provas relativas a esta parte, pelo que lhe deixamos aqui os nossos agradecimentos e o nosso apreço pelo seu valioso trabalho.—É muito interessante a apreciação das razões que justificam a construcção da gaiola para a maior estabilidade dos edificios relativamente aos abalos sismicos, o que é apoiado com argumentos tirados da experiencia dentro e fora do país. O titulo da obra que, desenvolvendo a sua conferencia, traz no prelo o nosso illustre camarada e distincto engenheiro é: Effeitos do terremoto de 1755 nas construcções de Lisboa .

[6] Annuario da Sociedade dos Architectos , 1908.

[7] Providencias sobre o terremoto de Lisboa , p. 200 e anteriores.

[8] Catalogo da Cartographia Nacional , p. 108.

[9] Decreto de 11 de setembro de 1750, que nomeou Ludovice architecto-mor do reino.

[10] Providencias sobre o terremoto de Lisboa , p. 131.

[11] Collecção Trigoso, tomo 16, p. 116.—Vide Doc. E.

[12] Mem. das principaes providencias que se derão no Terremoto que padeceo a Corte de Lisboa no anno de 1755 , por Amador Patricio de Lisboa. Pag. 318.

[13] Entre os papeis de João Baptista de Castro, e pela letra d'este, conserva a Biblioteca de Evora as copias completas da primeira e segunda d'estas dissertações, e do principio da terceira até § 6.^o—No tomo XIX do supplemento do Diccionario Bibliographico informa o Sr. Brito Aranha que os herdeiros de Antonio Ferreira Simas possuiam copia d'estas Dissertações , tendo no fim a seguinte nota:—«Deixou o autor de fazer a quarta parte não se sabe porque».

[14] Cod. C/{2-20} N^o 13.—Bibl. d'Evora.

[15] Entrelinha do Padre João Baptista de Castro.

[16] Nota de João Baptista de Castro:

«Sobre o dezenho de renovar a cid.^e de Lix.^a se pode accomodar o epigramma daq.^{le} Poeta, fallando de Roma destruida e depois reedificada, em q disse q se Roma não se tivesse arruinado, ficaria menos grandiosa.

Et tanti cecidissi tuum, Roma inclyta tanti! Si stares, esses, Roma superba, minor .

Igual a este pensam.^{to} he o q disse Cicero lib 4 in Verrem fallando do incendio do capitolio depois da morte de Sylla, e diz q aquellas chamas parecião vir do ceo, não p.^a destruir o templo de Jupiter mas p.^a lhe pedir outro melhor, e mais magnifico. Et illa flamma divinitus extitisse videatur non quae deleret Jovis optimi maximi templum sed quae praeclarius, magnificentius que deposceret . V.^e Pensées ingenieuses pag. 208 e o pigr. de Oven 12. Liv. 2. Ex cinere ut Phoenix Phenicis nascitur alter, Lisbon et Troyae prodiit ex cinere. Vid. Ruinas de J. H. de Mattos, pag. 126.

[17] Peculio 9 do P.^e Joam Baut.^a de Castro Cl., Beneficiado da S. Basilica Patriarchal de Lisboa. An. de 1760. Cod. CXII/2-9, fl. 666 a 680, da Bibl. de Evora. Segue-se a «Terceira P.^{te}» que está copiada apenas até ao § 6, incompleto, fl. 681 a 683.

[18] Na Biblioteca de Evora, em continuação das duas partes anteriores, vem esta 3.^a parte, até principio do n.^o 7, com variantes. D'ellas daremos em notas as mais importantes. Ha ainda a notar que, decerto por lapso do copista, não existem na copia de Evora algumas palavras que estão na da Torre do Tombo.

[19] A copia de Evora não traz as palavras «comprimento da».

[20] Na copia de Evora «até» em vez de «sendo».

[21] As palavras entre parentheses, que completam o sentido, são da copia de Evora.

[22] «Apropriados», na copia de Evora.

[23] Estas palavras entre parentheses são da copia de Evora.

[24] «Alg[~u]» em vez de «grande» na copia de Evora.

[25] «Carretas», na copia de Evora.

[26] Da copia de Evora as palavras entre parentheses.

[27] Idem.

[28] Idem.

[29] Na copia de Evora está «nos canos e cloacas», em vez de «nas suas situações».

[30] T. do Tombo. M.^o da Guerra—Maço n.^o 270 da remessa de 26 de dezembro de 1891.

[31] Theatro de Manuel de Figueiredo, tomo XIV, p. 630.

[32] Biblioteca Nacional—Col. Pombalina, mss. 457, fl. 340 v.

[33] T. do Tombo. Cad. 114 dos promotores da Inquisição de Lx.^a fl. 210.—Communicação do Sr. Pedro de Azevedo.

[34] No Archivo particular do digno par Simões Margiochi.