The Project Gutenberg eBook of Trovas Inedìtas de Bandarra

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Title : Trovas Inedìtas de Bandarra

Author : Gonçalo Anes Bandarra

Release date : May 21, 2007 [eBook #21545]

Language : Portuguese

Original publication : Londres: , 1815

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*** START OF THE PROJECT GUTENBERG EBOOK TROVAS INEDÌTAS DE BANDARRA ***

  

Trovas
Inedìtas de Bandarra

Natural da Villa de Francoza.


Que exestião em poder de Pacheco Comtemporaneo de Bandarra e que se lhe achàrão depois de sua morte.


Londres.

MDCCCXV.

Introduçaõ.

Com grande satisfação recebérão, todos os Portuguezes, assas Cinceros, e prudentes, as trovas de Gonçallo Annes Bandarra, impressas em Barcellona em 1809 sobre a edìção de Nantes de 1644. Juntandose, a esta edição outras, trovas que nunca se tinhão impreço pella defficuldade que havia de se naõ acharem.

Ficando porem ainda o ardente dezejo em muitas pessoas de verem impresso o resto (de que havia notìcia de sua existencia) de todas as trovas de Bandarra; porquè como este hia profetizando, em diverços tempos durante a sua vida; igualmente por este motivo, apareciao em diverços tempos, e lugares, e em poder de algumas pessoas, como se vio (por exemplo) na edição de Nantes de 1644 naõ se ímpremírão senão, aquellas trovas, por que não aparecerão as que se impremirão, em Barcelona em 1809 (que fazem a 2ª e 3ª parte desta obra) as quaes são, as que se achárão em poder do Cardeal Nuno da Cunha, e as que tinha o Comissário do Santo officio Domingos Furtado de Mendonça: e agora depois que se fez a edição acima ditta de 1809, se acharão na livraria do Ex^mo Sñr........ (omito o seo nome por motivos particulares) em manuscrito muito antigo! todas as profecias de Bandarra, não só as que se achão jà impressas, nas duas ediçoens que jà dicemos, mas tãobem as trovas de que havia noticia, que tinhão ficàdo em poder de Pacheco, amigo, e comtemporaneo de Bandarra, que mereceo a este tanto conceito, que foi digno de responder aquelle às perguntas que lhe fazia, cujas respostas que Bandarra fez a Pacheco são as que se achão na edição de Barcelona de 1809 desde paginas 60, até, 66, e como esta obra estava imcompleta, e pella sua natureza merece muita reflexão a todas as pessoas discretas e assas prudentes; a rogos destes pois hé que me determinei a mandar impremir, as trovas que o dito Pacheco tinha em seo poder, ficando desta sorte completa a edição desta obra toda, de que hà noticia que Bandarra profetizou, assim como tãobem, completos os ardentes dezejos de todos os Portuguezes Fieis, Cinceros, e Honrados, como eu que me prézo de ser hum.--

Leal Portuguez.

Quarta parte das Trovas de Bandarra.

1. Os tempos com crueldade Começar-se hão a mover, Se me não engana a verdade Ali perderão seo ser No meio de certa idade. 2. Virà gozando de paz Aquelle pastor valente, Hum lobo que guerra faz Moverà toda a gente Com huma limgua sagaz. 3. Logo nas mãos o pastor Seu cajado tomarà, Sem mostrar nenhum temor Contra os lobos que achará Revestidos de rigor. 4. Nelles farà tal destroço Que serà couza de espanto, Como bravo Touro em cosso Logo perde tudo quanto Tinha como pastor moço. 5. Jà vejo que se desterra Este pastor sem ventura, Da patria rebanho, e terra A huma larga Sepultura De huma frondoza serra. 6. O manço gàdo que em páz Pella ribeira regia, Jà desgovernàdo traz Triste sò sem companhia, Que hum mào concelho faz. 7. E logo outro pastor Do pouco gado que achár, Serà absoluto Senhor, E serà em quanto durar A fortuna, e seo rigor. 8. Serà pastor estrangeiro O que reja o manço gado Que taõ bravo foi primeiro Mas ai que falta o malhado Que era o principal Carneiro. 9. De pois que por tempo largo Este pastor governar A este rebanho amargo, Outra vez hà de tornar A ter o que tinha o cargo. 10. Haverà novos sinaes Da parte deste pastor, Thé os mesmos anímaes Por seu natural Senhor Darão suspiros, e ais. 11. Tornarà a quebràda linha No Cábo de serta idade, A encher-se como pinha, E descubrirà a verdade Do que encuberto tinha. 12. Sem pena que damno faça Tornarà pella ribeira Pastar o gado na praça, Por ultima, e derradeira Dos fados Supréma traça. 13. Tornarei a recolher Esta ovelha perdida A patria que lhe deu ser, E porei por ella a vida Sem nunca desfalecer. 14. Entaõ não me mudarei Pois conheceis que sou vosso, Minha ovelha estimarei Pois de outro modo naõ posso Alma, e vida lhe darei. 15. Haverà em triste Cidade Grande fome peste, e guerra, Que a Escritura a não erra Que em tudo falla verdade, 16. De longas terras virão Dois Leoens mui asanhádos Hum de Cruz, e outro não Vingarão males paçados. 17. Serão à força da espada Destruidas mil provincias, Na Luzitania assollada Terão fim roubos, e malicias. 18. Na era de quarenta, é hum De Janeiro por diante, Darà fio ao seo montante Aparelhece cada hum. 19. O nosso Christianismo Nossa grande Obrigação, Não temos mais de Christão, Do que o nome do Baptismo. 20. Fazemos dos dias noites Vivendo como agrestes, Haverà castigo, e açoutes Cada qual se faça prestes. 21. Espantozos movimentos Havemos cedo dever, E antes de muitos tempos Ha de isto de acontecer. 22. Não haverà em Hespanha Lugar preveligiado, Tudo serà assollado Dessa gente de Alemanha. 23. Todos os lugares planos Por terra serão prostrados, Muitos males, muitos damnos Haverà pellos peceádos. 24. As Serras se habitarão E os Oiteiros mais altos, Muitas Gentes sahirão Outros andarão em Saltos. 25. Andarão como pasmados Chorando pellos caminhos, De suas terras lançados De parentes, e vesinhos. 26. Então não haverà amigos Nem pay que por filho seja, O mais seguro abrigo Serà acolherse à Igreja. 27. Nesses tempos os meninos Ainda que innocentes, Terão tãobem accidentes Muito fora dos Caminhos. 28. Haverà peregrinaçoens Mortes sem conto de dura, Males fogos devisoens Só Deos lhe póde dar cura. 29. Ha de ser Rey quem fôr Que em Deos está o saber O bom, o São, o melhor Só elle o há de escolher. 30. Por particular enteresse Tem chegado o mundo a tanto, Triste do que lhe parece Que háde bastar falçomanto. 31. Os póvos hão de alintar As culpas dos seos Monarchas, Que sem nenhum estudar São Letràdos, e Patriarchas. 32. Nos Ceos haverà sinaes Na Terra não faltarão, Tormentos pennas, e ais Que aos Ceos penetrarão. 33. E depois do Leão morto Não sem falta de mistério, Aportarà neste porto Outro com maior Império. 34. Entrarà com companheiro Na terra dos Luzitannos, Cada qual bom Cavalleiro Destruirão os Arriannos. 35. Tempos traz tempos virão Que os Grandes serão baixàdos Os pequennos exaltádos Povo, e Rey governarão. 36. E depois de tantos males Fomes, pestes devisoens, Cheios os montes, e Valles De tristes peregrinaçõens. 37. Tornarà o Redemptor A olhar por seo rebanho, E tello ha com muito amanho Como bom Rey e Senhor. 38. Escaparà pouca gente De tão perigoza dança, Virà tempo de bonança Quem viver serà contente. 39. Vejo vir grandes baleias Pella costa de Biscaya Gaia gaia da vezinha praya Que lhe tingem as areias. 40. Eis là contra a Norúega Raios, Cavallos, Golfinhos, Com que preça que navega Tanta Cópia de Marinhos. 41. Vejo milhoens de Relampagos Trovoens que rompem os ceos Nuvems de mui grandes véos Coriscos grandes expantos. 42. Que mancebo tão formozo Dà Luz a todo o Emisfério, Rosto mui digno de Império Forte, fero, e graciozo. 43. Iá por força toma a Seora Cercàdo de Leoens bravos, Oh que unhas dentes quebrádos Teme, e treme toda a terra. 44. Mil rapozas vão dìante Buscando grutas, e côvàs, A Lebres, Coelhos dão novas Que fujão de tal semblante. 45. Descançame a vista vendo Hirse o tempo já chegando, E estarse a Alma alegrando Com o que vejo, e entendo. 46. Venha embora o Leão forte De tantos accompanhádo, Que affirmão, e tem jurado Que em que lhe custe a morte O hão de ver coroado. 47. Que grandes arribaçoens São Atums, ou são Sardinhos, Maiores são que Barquinhas São Náos, boms Galioens. 48. Parece que seo caminho Hé direito a Portugal Ai se eu mal não advinho Não vão carregar de Sal. 49. Que rostos, corpos, e armas, Quanto fogo, e quanto asso, No rosto gente do Passo E Soldados nas Bisarmas. 50. Ora quero-lhe dizer Esta cà occupàda a Terra, Mas poderão responder Se hé gente de paz, ou guerra. 51. Hé gente que em si encerra E aquillo que diz não faz, Diz guerra, ordena páz Pergoa paz, e faz guerra. 52. O Seo Rey quer ser Monarcha E toda a Terra pertende, Tudo abrange, e tudo abarca E do díreito não pende. 53. Vinde cà Rey Soberanno Quero vos dezenganar, Lembro-vos que sois humanno E que tudo hade acabar. 54. E que na postreira hora Quando o mal jà estìver feito, E não possa ser desfeito Treme olma, e em vão chora. 55. Lembre vos o que aconteceo A Tholedo com o pay Que já cada hum là vay E não sei qual pa o ceo. 56. Quereis vòs a Portugal Sendo elle nome macho Ajuda mal por que lhe acho Muita fémea, e pouco Sal. 57. Se quizerdes por direito Deixarse há elle torcer, Mas forçado hé máo geito Para se deixar vencer. 58. Vejo vosso damno perto Hireis perdendo o reynádo E tão bem tende por certo Morrerdes desconsolado 59. Luzitanna hé chamáda A Dama que dezejaés, Ella hé dantes despozada Perseguilla hé por demais 60. Ainda que em caza tem De Ulices tantos povos, Hir-se hão como os porcos Ante o Leão que vem. 61. Esta profecìa hè bella Mui certa e verdadeira, Quem tiver boa terceira Gozarà a Sabia Donzella.

Fim da quarta parte.

Quinta parte das Trovas de Bandarra.

1. Quando de noite me ponho A dormir sem me benzer, Tudo o que háde açuceder Se me representa em Sonho. 2. Sempre mandei escrever Aquillo que me lembrou, Porque a memoria a postou De tudo se esquecer. 3. Nas Trovas que tinha feito Muito hà que conciderar, Como o seo tempo chegar Se vera o meo conceito. 4. Sempre por thezoiras faço As minhas contas mui certas, Portas que hão de estar abertas Não são boas para o paço. 5. Eu naõ sou Profeta inteiro E menos na minha terra, Mas vejo vir pella Serra Atraz de hum Lobo hum Cordeiro. 6. O Sol pello meio dia Faz o effeito de Geada, Vejo partir huma armada Carregáda de agua fria. 7. Huma grande tempestade Com o céo muiclaro, e Serenno, Farà hum hommem moreno Com rezão mas sem piedade. 8. A minha trepeça tem Trez péz mui bem seguros, Vejo fabricar hums muros Mas eu naõ sei para quem. 9. Quem muitos annos durar Hade ver couzas indignas. Tocar-se haõ muitas bozinas Por hommems peixes do már. 10. Todo o mundo grita, e berra Cada qual no seo officio, Pois antes que hum beneficio, Querem, peste, fome, e guerra. 11. Quando furo com a Suvella Coiro groço, e Macio, Vejo prender no Rocio Quaze toda a parentella. 12. Eu tenho medo da morte Como couza superior, O Presbitero maior Naõ háde tornar à Corte. 13. Annos hãode vir à terra Em que por nossos peccados, Nas cazas fiquem os gados As gentes vivaõ na Serra. 14. Sempre como os meos feijoens Quando vem bem temperados, Vejo no templo os Copados No Cural os Cappellaens. 15. Sou Sapateiro, mas Nobre Com mui pouco Cabedal, E tu triste Portugal Quando mais rico, mais pobre. 16. O (A) que ponho às avessas Com a perna atraz levantáda, Hàde ter a mão armàda Para degollar Cabeças. 17. Quando a terra dos Falcoens Certa erva produzir, Creio se hàde conceguir O deitar fóra as Lezoens. 18. De hum brazeiro mui acezo Damdolhe o vento ligeiro, Se hàde formar hum pinheiro Sem ter medida, nem pezo. 19. O Carro que vai chiando Por hir muito carregàdo, Sim mostra o jugo pezado Mas naõ tira pezo andando. 20. A Hortela na Panella Dizem que lhe dà bom gosto, Essa mulher de bom rosto Naõ ouço rusnar bem della. 21. Hespanha muito medroza A Europa muito enfadada, Huma mulher de almofada Sabe como huma rapoza. 22. As linhas com que cozia Jà naõ como as de agora, Temo que se deite fóra Quem Souber a Ave Maria. 23. Na era que eu tenho ditto Nas Thezoiras levantadas, Se haõde ver muitas jornàdas Á custa do Saõ Benito. 24. Naõ pode haver couza boa Aonde Habita o mal Francez, Temo o polho Portuguez Em poder de huma Leoa. 25. Quando o Leaõ Hispanhol Vier quase a Portugal, Háde ser o nosso mal Querer luzir como o Sol. 26. Quando a neve como braza Todas as plantas queimar, Dous quintos se haõ de ajuntar Sem haver jogo na caza. 27. Em hum lugar mais ameno Cercados de mares groços, Vive por peccados nossos Quem se sustenta com feno. 28. Sempre vem de monte, a monte As agoas das enxorradas, E vejo testas coroadas Sentadas sobre huma ponte. 29. Quando tiverem por certo Perdida toda a esperança, Portugal terá bonança Na vinda do Encuberto. 30. Vejo vir pello mar largo Como quem vem para dentro, Hum hommem buscar seo centro Depois de hum grande lethargo. 31. Quando me matar S. Jorge E Marcos me reçuscitar, Saõ Joaõ me exaltar Faça todo o mundo alforge. 32. Os pez da minha trepéça Conta trez vezes areio, Ajuntalhe dous, e meio Dizelhe que apareça. 33. Naõ podeis fazer queixume De deixar o vosso lár, Que se do norte ventar Do Sul vos virà o lume. 34. Vejo a grifa parideira Juntada com huma Serpente, E vejo que muita gente Tem disto grande canceira. 35. Vejo o Leão, e a Serpente Atraz da gente goleima, Grita o gallo que ateima Com o Lobo que tem diante. 36. Já vejo grande mofina No porqueiro de Sequem, Que o gado todo está bem Com o Ovilheiro de Dina. 37. Vejo a Lua ensanguentada Pella virtude do Encuberto, Se està longe, ou se perto Assim o diz a toada. 38. Là vem por sima do már Hum Cavallo de madeira, Que farà n'huma poeira O porco que hàde grunhar. 39. Vijo pedras ajuntar Là muito perto da Lua Vejo subir de huma, e huma E nellas o Sol entrar. 40. Vejo pello meo Telhado No Ceo grande resplendor, Se hé alegria, ou temer Esdras o tem declarádo. 41. Vejo o Almocreve tomar As Alamanhas antigas, Vejo nascer das ortigas A remente là do mar 42. Là donde o Sol vem nascendo Hum Dragaõ vejo vir vindo, A seo Cabo vem correndo Mais bichos que o vem seguindo. 43. O primeiro depois do quinto Filho d'Aguia levantada, Hade estender sua Espàda Sobre a Galia faminto. 44. Vejo sahir as Gaivotas De dentro do nosso Tejo, Taõbem parece que vejo As duas por ellas rotas. 45. Sonho que rebentaõ fontes Da terra da Promiçaõ, E que os Gallos de Siaõ Vaõ fugindo até os montes. 46. Naõ canta o Gallo com penna As aguias charão mofina, A serpente encrespa a clina Porque Deos assim o ordenna. 47. Faremos dos dias noites Vivendo como agrestes, Haverà castigo, e açoutes Cada hum se faça prestes.

Fim da quinta parte.

Sexta parte das Trovas de Bandarra.

1. Sonhei que via hum fumo, Com grande força sahir, E deixando de Subir, Hum altar vi no escuro: Formava taõ forte muro. Que estava o Altar cuberto; Vi a hostia naõ mui perto, Do tal Altar arredada: Huma cára sublimáda, Em ella vi por mais certo. 2. Pareceme que crescia, Quem assim o figurava: Taõbem sonhei me pegava, Quem mulher me parecia: E que com voz me dezia, Anda ver a terra nova, Pella maõ levou-me à cova, Levava bello vestido, Aí nuvems eu fui subido, Onde vi a gente toda. 3. Negra, e amolatáda, Logo à terra baldeando, A respiraçaõ faltando Eu daqui já naõ quis nada, Para a terra de pancada Me trouxe a tal mulher, Athé alcancei dizer Vou segunda vez à terra, Logo vinha resta era E tornava a aparecer. 4. Parecia a meo ver Nova Igreja figurada, Por hereges desterráda, Na quella terra a tremer, Quem Herege quizer ser Ficarà negro, ou molato, E terà todo o máo trato Por fugir da boa Ley, No Inferno sua grey Para tràz darà o Salto. 5. Taõbem sonhei que a nuvem Cobria a gram redondeza, Mui medonha, e espeça Taõbem raios que destroem, A quem a falça Ley tem, E depois vi aclarar Com hum claraõ singular, Em dia de huma Senhora Em fe seguinte boa hora Seu nascimento sempár. 6. Em sonhos vi grande armáda E a Lua, em rosso Tejo, Ficandolhe o Sol por baixo De huma Torre armáda, Moiros tiveraõ entráda Pella terra de christaõs, Na Igreja vi estes máos Hum exercito Francez, Taõbem entrou desta vez Accompanhádo dos Máos. 7. Pella terra veio entrando Athé se perder de vista, Com grande préça, e cobiça Toda a vinhaõ derrotando, Taõbem os Moiros chegando Com grande astucia, e préça, Vinhaõ buscando a Cabeça A numa Cidade Real Pouco cuida Portugal, Em o mal que lhe aconteça. 8. Parece que estou ouvindo Nesse mar a gran tormenta Antes que chegue os Setenta, Caxas, Ballas, barberinhos Entaõ hé que virà vindo O Grande pastor Geral, Acudir a taõ graõ mal, Dando às Ovelhas sustento E taõbem o Sacramento Viva o nosso Portugal. 9. Poucos tempos paçaraõ Segundo as Profecias, Em os Sinaes destes dias Outros que cedo viraõ Huma Gran tribulaçaõ, Mas ao depois verà A volta que tudo dà, Chegando logo a vencer No mundo todo o poder Na Igreja ficarà. 10. Em todas reste tuida Com maior veneraçaõ, Só nella tem o Christaõ, Gloria na eterna vida Mas ai que a vejo cahida Que primeiro vem chegando Os boms largando o mundo, Outros morrendo à preça Outros perdem a Cabeça, Muitos disso vão folgando. 11. Tanto Sangue pello campo E tanto morrer na rua, Tantos deixaõ vida sua Por guardar o nome Santo, Nem da mulher o manto Terà respeito ou favor, Jà nenhum lhe tem amor A essa profanna vaidade, Quando virem a Cidade Posta no maior horror. 12. Jà de França serà farto Quem à França quiz andar Nunca mais andem trajar, Tomàra naõ ter o fato: Paga o povo por ingrato O desprezo que tem feito, Da Patria do minho aceito Dando rédias ao profanno Teraõ o seo desenganno, Com o Vestir mais perfeito. 13. Com Sangue, Boubo, e Deshonra Com mortes, e Vitupérios, Fomes doenças, e Guerras, Querendo acabar a terra Com mui grande alarido, Todos ficaraõ com sentido Com o mal naõ esperado Serà prezo o Diabo Porque entaõ tudo hé acabádo E o morto serà vivo. 14. Era taõbem logo chega Que a todos de asento, Serà fim este tormento, Quem com bonança navéga Entaõ armáda mais féra, Livranos do Inemigo, Com bom valor, e abrigo O Beato Saõ Joaõ Em seo dia nos dà a maõ, E o Incoberto vivo. 15. Quem destruir os do Norte E os Moiros deitar fora, Matandolhe a gente toda Em Cacilhas forà côrte Lá vereis o estandarte Com as quinas aconado E emtaõ vereis mostràdo Em sima o bom Jezus, E taõbem a Santa Cruz Para vencer o Diabo. 16. Veremos o mar vermelho Sem hir a Jerusalem, A qui veraõ os que tem Tomádo o meo concelho, Em si proprio o espelho, Muito Sangue em si correndo Mas quem fôr obedecendo, Passarà sobre o mar Sem que precize nadar, Verà o maior portento. 17. Em Cassilhas a Bandeira Com estandarte Real, Logo Hereges por seo mal, A morte tem de Carreira Terà este na Simeira Hum Christo crucificádo, Verà o povo malvado O quaõ cego tem vivido, Em terem perceguido E a muitos marterizádo. 18. O Moiro, Turco, Francez Naõ poderaõ fugir todos, Porque muitos seraõ mortos As maõs do bom portuguez, Là levarão desta vez Novas aos seus que contar, Quando virem em Portugal O Encuberto declarado, Castigando todo o estrago Que elles vieraõ cauzar. 19. Nenhum remedio lhe sinto O Naõ vireá melhor fôra, Venha sem em boa hora Quem ao lobo faminto, Lhe ponha em sangue tinto Por essas ruàs no chaõ, Bandeiras em confucaõ Flores, Barretes, e Capas Deste bom Rey nada escapa, Viva o Graõ Sebastaõ. 20. Sonhei que via vencer As quatro partes do mundo, E que Portugal a tudo Hia dando que fazer, E taõbem fazendo e ver O Evangelho, e a Cruz Ao povo falto de luz, Sacramento eterno dia Taobem a Virgem Maria Todos com o bom Jezus. 21. Sonhei que o Sacramento Em todo o mundo em redondo, Já das almas serà dono Isto maior portento, Taõbem graõ contentamento, Em ver os Reys me cauzou Que na geraçaõ dotou, Lá de Affonço o primeiro Thé trinta o derradeiro, Onde o primeiro acabou. 22. Por humgrande oppozitor Depois da linha acabada, Este farà derrotada, A Igreja com horror, Á besta mete pavor Em trez, e meio de dura Tanta gente à Sepultura, O Martir gloríozo Por fugir do tenebrozo, A seguir a Virgem pura. 23. Por mil, e duzentos annos A Igreja reinarà, Jà todo o Christaõ serà Vivendo como irmaõs, Nem trapaças nem enganos Debaixo de huma cabeça, No seo Império, e pastor, Por Sebastiaõ Senhor A quem tudo obedeça Com Zelo, e grande amor. 24. Este Rey de Deos guardado Para limpeza do mundo, De tal sorte porà tudo Que deos seja venerado, Em Portugal exaltàdo De pequeno graõ Senhor, Os mais todos com Pavor Logo o haõde coroar, Por Imperador sempár Ao depois do Creador. 25. Sonhei que via descer Hum Anjo em huma nuvem Mostrando que jà destroe Quem Herege quizer ser, Daqui vem a entender Pella voz que lhe ouvi E com furor disse assim, "Morra o Blasfemador "De Ley do bom Redemptor, "O Prencipio desde aqui. 26. Taõbem a Lua correndo Sonhei que a via vir Por trez vezes a cahir, E Portugal perecendo A isto o que eu entendo Que figura muito moiro, Vindo a buscar o oiro, E mais riqueza notoria Fazendo perder a gloria, A quem delle fez thezoiro. 27. Quantos destes vaõ roubando Aì quando virem chegar, Muitas Náos em este mar E gente em terra botando Entaõ ouviraõ o bando, Mata, fere, e degolla, Ficando a gente tolla Tao tolla, como pasmàda E a terra derrotáda Perceguida a toda a hora. 28. Morem, e ficaõ Catholicos, Hums morrem, outros pelejaõ Outros depreça despejaõ, O melhor que guardaõ vivos, Jà fallaõ Leaes amigos A imgratidaõ sobeja, E algums comgrande inveja, Sò cuidaõ em bem furtar, Nenhum yuer a tuvar O Mal que tanto sobeja. 29. Nenhum vemidio se sente Sem ter meio de Apellar Nem na terra, nem no Mar, Vendo prêza maior gente O mais alto delinquente, Naõ ficarà sem castigo Quem muito prende taobem Serà prezo, e cativo, Pezarlhe há de ser vivo Estando só sem nímguem. 30. Nas armas pèga a mulher Taõbem entra em Corcelho, Entao acode o bom Valho Sebastiaõ hàde ser, E tudo em seo poder Ficarà com graõ limpeza Ou Magestade, Alteza Bem livras do Cativeiro Lobo se torna, em Cordeiro Em paga da tal Fineza. 31. Contra graõ Senhor se ergue Com furia, Asturia, e Manha, Esparta, forte, Companha, De seo maior mal lhe serve, Taõbem quem ajuda perde Honra, fazenda, e Vida, Depois de no mar vencida E na terra maio é risco, Sepultádo no abismo De todo serà perdida. 32. Perde Braga, vence o Porto E todas seraõ entràdas, Em o fogo das pancadas Em Bahia grar dectroço, De Lagos fica bem pouco Lisboa já hé Senhora, De cativa deffençora Da Ley que haõde guardar, Os que se querem salvar E morrer em boa hora. 33. Viva o grande Portugal Todos saltaõ de contentes, Mulheres com seos parentes Ficaõ livres do graõ mal, Veja agora cada qual De que sorte poem a vida, No levantar da cahida Tem o vemido na maõ, Quem cuidar em bom Christaõ Sua alma serà subida. 34. E todo o mundo sugeito A esta naçaõ portugueza, Por aquella grande Alteza Que Christo tem em seo peito, Por lhe ser o mais aceito Na Fé, Constancia, e Valor, Peregrimo, e Senhor Gram trabalhos padecendo, Em fortaleza padecendo Em o mundo grão valor. 35. Em humildade, e esperança A maior que jà se vio, Com caridade subio Ao lugar que logo alcança, Justiça com temperança Na prudencia o primeiro, No castigo o derradeiro Esperando a Sugeiçaõ, Logo chega o pagaõ A ser Christaõ verdadeiro. 36. Portugal fica mais nobre Em todo elle o poder, E taõbem se háde ver Ficar rico, o que foi pobre, Aquelle a quem a fé cobre Firme na Santa Igreja, Todos lhe teraõ inveja, Quando virem Portuguezes Vencendo Turcos, Francezes, E Moiros, em graõ Peleja. 37. Dois descendentes que traz De grande Valor, e Brio, O Mais velho em Senhoria Porá a guerra, em Paz, Veraõ todos o que faz De boms na Santa Igreja, A força lhe tem inveja A Fortuna, e augmento, Farà pàrto o Sacramento Onde toda Christaõ seja. 38. O Pastor mór cedo falta Seo descendente reinando, E grande castigo dando Aos vezinhos de Malta, Quando Veneza se exalta De França hé Malográda, Cauzarà nesta pancáda Entre os seos naturaes, Seraõ os castigos taes Que toda seja arrazáda.

Fim da Sexta Parte.